sábado, 16 de janeiro de 2016

REFLEXÕES NOTURNAS II

Samuel Castiel Jr.

















    Choveu forte. Depois ficou aquela chuva fina, caindo indefinidamente. A noite ficou úmida. Uma goteira pingando sôbre um toldo, marcava o tempo como um relógio marca os segundos. Sozinho, escuto o tempo passar nessa marcação ritmica, levado por uma cruel e implacável insônia. Ao fundo uma rã estridente completa o holocausto da solidão perplexa e inexplicável da minha inquietude íntima. Os pensamentos fragmentados vão tomando forma e gritam em buscas de respostas que não chegam. Quem eu sou? De onde vim e pra onde vou? Se é difícil nascer, mas difícil ainda é sobreviver. Para onde caminha a humanidade? Ao mesmo tempo que mentes brilhantes impulsionam nossos conhecimentos, que a ciência atinge níveis antes inconcebíveis, parece que o homem se torna mais vil e corrupto, mais arrogante e soberbo. E tirando partido dessa fragilidade humana, líderes religiosos pregam a salvação eterna da alma, garantindo-lhes um pedaço do céu. Já é muito tarde, não exito em buscar meu antideprressivo e indutor do sono. A chuva parou, mas ainda ouço a goteira pingando sôbre o velho toldo, marcando cada segundo como um implacável relógio. Agora o coaxar da rã chega como uma orquestra rasgando a noite úmida, a minha mente e minh'alma. O novo dia está pra nascer. Quero ver um sol brilhante, sentir muito calor. Não quero mais essa chuva nem essas nuvens escuras. Acho que o antidepressivo começou a fazer efeito. Decepcionado com minhas elucubrações sem respostas, fecho a minha janela e volto pra cama. Apago a luz.

PVH-RO, 15/01/16