quarta-feira, 8 de maio de 2013


LAPSO DE MEMÓRIA
     ( Estorias da República )

                          Samuel Castiel Jr.

 

    Ninguem tinha dinheiro. Afinal, vida de estudante é sempre assim! Mas, era sexta-feira e todos queriam ir pra balada. Como em todo o grupo, há sempre os mais e os menos espertos! Isso dentro da normalidade! Mas o caso do Beto era de oligofrenia mesmo! Pois bem, o pouco dinheiro que havia não passava de uns trocados que mal dava para comprar um ingresso no Club Campinense, e a turma era grande, de umas dez pessoas. Tinha que ser feita alguma malandragem. E isso não era nenhum problema para  aqueles moradores da república lá em Campina Grande, na bucólica Paraíba! Decidido e deliberado por todos, o plano era o seguinte:  seria comprado um único ingresso feminino e um dos rapazes tentaria entrar usando o ingresso feminino.  O porteiro iria criar confusão e, no tumulto, os outros passariam por trás, sem ser percebidos. Deu certo! A confusão se formou na portaria por causa do ingresso feminino usado pelo malandro, conforme estava combinado. Acontece que o oligoide do Beto não conseguiu entrar! Foi então necessário montar um outro plano complementar:  o Beto tentaria entrar misturado com o pessoal da diretoria do Club Campinense. Isso também não deu certo, pois quando os diretores foram consultados disseram que não conheciam aquele intruso! Outro plano foi imediatamente construído:  o Beto iria dizer ao porteiro que tinha saído e estava apenas voltando. Para esses casos, o Club adotava que a pessoa que saia do clube,  deixava sua carteira de identidade em uma caixa de papelão que ficava em cima da mesa, na portaria. Ao retornar, a pessoa pedia sua identidade. Uma das mentoras do plano, que já estava dentro do clube, aproximou-se da caixa das identidades e gravou na memória  um dos nomes das muitas  carteiras que ali estavam depositadas. Saiu, foi até o pobre e abestalhado Beto e disse-lhe:

__ Você agora vai entrar! Basta dizer ao porteiro que saiu para falar com um amigo e pede sua RG. Quando ele perguntar qual é o seu nome, você diz que se chama Ubaldo Paes, OK? Nós vamos estar por perto, esperando você entrar. Fica esperto, seu nome é Ubaldo Paes! Não esqueça!

__Ok!

     Quando o porteiro olhou pro Beto foi logo perguntando:

__Cadê o ingresso meu?

__Eu não estou entrando agora.Saí e tô voltando.

__Como é o seu nome?

     Foi aí que o Beto escorregou! Olhou pra um lado, olhou pro outro e, com aquela cara de abestalhado, perguntou bem alto para a amiga autora do plano que assistia tudo de longe:

__Zezé, como é mesmo o meu nome???

     O Beto sentiu a mão forte do leão-de-chácara pegar pelo colarinho de sua camisa e jogá-lo na rua!

__Se você voltar de novo eu juro que, em vez de mandá-lo pra pisiquiatria, você vai reaprender seu nome na delegacia!

    Nessa noite o malaventurado Beto voltou pra república e não quis mais saber da balada!

                                                                                                                            PVH-RO, 27/04/13















 

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