terça-feira, 20 de outubro de 2015

PÂNICO DO ELEFANTE

Pânico do Elefante
Samuel Castiel Jr.







     Na savana africana, mais propriamente na savana do Serengeti, a manada de elefantes caminha exausta sob o sol inclemente. Nuvens de areia começam a soprar fustigando ainda mais aqueles animais. Eles precisam encontrar desesperadamente uma fonte de água para saciar sua sede, antes que anoiteça. Entre eles um elefantinho de apenas dois meses caminha no meio do bando, pois havia perdido sua mãe, morta por um caçador. Finalmente encontram uma pequena poça d'agua. Imediatamente começam a sugar aquela água com suas trombas vorazes. A tempestade de areia sopra cada vez mais forte e os elefantes sabem que precisam sair imediatamente dali pois é imperioso encontrar o abrigo de alguma duna para amenizar aquela tempestade. O pequeno elefante havia entrado na poça d'agua e não conseguia sair pois as suas pernas ainda eram curtas e deslizavam nas bordas da barranca. Ali começava seu pânico pois viu a manada afastar-se rapidamente, deixando-o para trás. Depois de várias tentativas infrutíferas, finalmente ele consegue sair da poça. Acontece que a manada já sumira no horizonte e tudo que conseguia ver era a poeira de areia que fustigava seu corpo e seus olhos. Atônito e desorientado volta para as proximidades da poça d'agua e tenta se abrigar atrás de um arbusto ali existente. Os últimos raios de sol ainda estavam presentes quando se aproximou da poça  d'agua outra manada de elefantes sedentos para amenizar a sede. O filhote viu suas esperanças renovadas. Começou a se infiltrar no meio daquela manada, porém sua recepção não foi como imaginara. Foi rechaçado pelas fêmeas, uma atitude que não é habitual entre os elefantes. As tias costumam ser carinhosas, às vezes até adotam filhotes que, por qualquer motivo, ficam órfãos. Quando os elefantes deixaram a poça d'água, o filhote os acompanhou, mesmo sendo rechaçado por machos e fêmeas. À noite chegara e, finalmente, a tempestade de areia perdeu força. A manada agora se posicionara para passar a noite. No céu algumas estrelas já despontavam e a temperatura começava a cair rapidamente. O pequeno elefante, atônito, passava entre as grandes pernas, sendo rechaçado pelos machos e também por algumas fêmeas, comportamento atípico entre os elefantes, mas que infelizmente estava acontecendo aquele filhote. As fêmeas geralmente são solidárias a filhotes que ficam órfãos e acabam os incorporado a manada. Mas neste caso isso não acontecia. À noite chegou e uma escuridão intensa se abateu sobre o deserto. O frio também chegou. O pobre filhote continuava desorientado circulando entre aquelas pernas e patas gigantes. De repente um frio diferente e pavoroso percorreu o seu pequeno corpo: o esturro de um leão fez o chão tremer. Seu DNA continha informações genéticas que lhe diziam do perigo em potencial. Seu fim trágico poderia estar próximo. Seu pequeno corpo tremia de frio e pavor. Os leões famintos estavam rondando a manada, matando, estraçalhando e disputando suas presas. Foram horas de terror. A cada esturro seu tremor crescia, como se fosse uma crise convulsiva. Algumas fêmeas rechaçavam-no com suas trombas como se fosse um intruso a manada. Sabia que seu fim estava próximo. Sabia também que caso saísse da formação da manada seria imediatamente morto e devorado. Muitas vezes os leões famintos não respeitam nem as manadas de elefantes e tentam matar seus filhotes, principalmente quando percebem neles alguma inferioridade biológica ou deficiência física. Desesperado, em pânico e cheio de pavor, o pobre filhote avistou um par de olhos que olhavam fixos para ele como se fossem pequenos faróis na escuridão. A manada toda se agitou quando mais um esturro fez tremer o solo, agora bem perto, como se já estivesse no meio da manada. O pobre filhote sentiu um tremor e intenso arrepio, deixando escapar um forte jato de urina. Foi nesse exato momento que o maior de todos eles, um colossal animal, certamente o líder do bando, soltou um rugido furioso e selvagem, partindo para o ataque e seguido dos outros machos do bando. Os leões amedrontados pelos elefantes furiosos, rugindo, puseram-se em debandada, desaparecendo  na escuridão. No horizonte uma pequena fímbria vermelha começou a despontar. Começava a nascer um novo dia! A manada pôs-se então em marcha, lentamente, pois logo mais a temperatura começaria a subir novamente e precisariam encontrar alimento, novas poças d'agua para beber e se refrescar. O filhote caminhava ainda trôpego mas sentindo-se agora salvo, protegido e adotado por sua nova família.


PVH-RO, 19/10/15

Um comentário:

  1. Talvez tenha sido parte do processo (não cerimonial) da inicialização...
    Um conto intenso e profundo que prende até a última frase.

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