terça-feira, 11 de junho de 2013


"ENTIDADE" TAMBÉM TEM PRESSA

 Samuel Castiel Jr.





      Agnóstico,  cético, ateu  e outros termos  sempre me foram atribuídos  quando se discute o imponderável e outros assuntos metafísicos, de mediunidade ou  de para-normalidade.  Acontece que entre o céu e a terra, muitas coisas existem que não tem  explicação! Com essa assertiva bíblica, sempre me pautei com muito cuidado quando esbarro com esse assunto!  As vezes me pego, eu mesmo fazendo o papel de advogado do diabo, e então acabo  recebendo todos esses adjetivos,  quase sempre injustos, precipitados,  no meio de polêmicas acaloradas! Até os Objetos Voadores Não Identificados (OVNIs) já serviram para questionamentos que ficam sempre sem  respostas!  Procurando dar maior embasamento para essas questões, preferi  ir ver pessoalmente como esses rituais todos se processam nos diversos centros de mediunidade.  Visitei vários “terreiros” de umbanda,  participei de festas em datas comemorativas, deixei que ciganas sujas e coloridas lessem as minhas mãos, paguei para que jogassem búzios e cartas, ouvi cartomantes e videntes, sempre com o olhar crítico,  mas na realidade  procurando encontrar respostas para minhas próprias indagações. O que vi deixou-me algumas vezes mais intrigado, outras vezes mais confuso e na maioria das vezes fortemente revoltado! Rituais de vodu com imolação de animais, oferendas de sangue quente a entidades perversas! Verdadeiros banhos de sangue eu presenciei! Copos que se movem sobre as superfície da mesa, escrevendo mensagens do além! Vozes conhecidas que respondem perguntas de familiares inconsoláveis! Mensagens de paz e consolo que vem do além!
     Nos dias de festa de Iemanjá segui todos os passos, vestido de branco, joguei flores ao mar! Acompanhei de barco a procissão da deusa das águas!...

      Vi bocas de sapos costuradas com o nome de pessoas desafetas, para que definhassem enquanto o bicho fosse secando!...

      Andei com pessoas que colocavam “despachos” nas encruzilhadas  toda segunda-feira, com garrafa de “marafo” e galinha preta!

      Mas, entre tantas formas e ritos populares, alguns  grosseiramente feitos para contemplar o mal, outros nem tanto,  praticados  mais por pessoas rudes e ignorantes,  sempre tive a curiosidade de saber como é que certas pessoas incorporam “caboclos”, passam a noite  fumando  charutos, baforando a cabeça dos outros e bebendo duas ou mais garrafas de cachaça, sem cair ou sequer ficarem bêbadas!
     Quando certa vez fui a um” terreiro”, chamado Terreiro do Samburucu, em Porto Velho, Rondônia, procurei despir-me de qualquer  olhar cético, mas algo chamou-me a atenção: a “cabocla” pomba-gira baixou em uma mulher  de mais ou menos  30 anos, a qual começou a falar grosso, gemer, pediu charutos e cachaça. Tudo lhe foi entregue e ela começou a dançar freneticamente sob o ritmo alucinante dos tambores!... Acontece que, entre um  gole e outro e umas  baforadas  do charuto, rodava com os cabelos soltos jogados pra frente do rosto, e de vez em quando, disfarçadamente, olhava para o seu relógio de pulso, conferindo a hora. Quando terminou sua incorporação,  segui de longe a moça que acabara de desincorporar a “cabocla”, a qual foi as pressas para a parada de ônibus, entrando no primeiro circular que passou!  Intrigado com o que eu acabara de presenciar, fui até o “pai-de-santo”e, contando-lhe que testemunhara por  varias  vezes a “pomba-gira” conferir a hora em seu relógio e depois sair quase correndo para pegar o ônibus circular. Perguntei-lhe então:

-- Como é que uma “cabocla” que está incorporada, dançando, bebendo cachaça e fumando, fica todo tempo conferindo a hora para não perder o ônibus ?
-- É que  "entidade" também tem pressa, meu filho! – respondeu o pai-de-santo, soltando uma baforada forte de fumaça que envolveu o meu rosto!...

                                                                                                                                  PVH-RO, 10/06/13

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