sábado, 7 de julho de 2012


HISTORIA DA RADIOLOGIA E DIAGNÓSTICO
POR IMAGEM EM PÔRTO VELHO – RO.


O antigo Hospital São José, hoje Policlinica Tiradentes, da Policia Militar de Rondonia,  até o inicio da década de 80, funcionou como o único hospital e Pronto Socorro (  PS )  do Estado. E foi o palco onde tudo começou em termos de Raios-X e Diagnóstico Radiologico  em Pôrto Velho. Havia instalado e funcionando naquela unidade hospitalar um equipamento de Raios –X da marca Heliodor Super, de 500 mA,  com seriógrafo e fluoroscopia; um outro equipamento da marca GV ( Germano Vieira ) nacional e de 200 mA, além de um apare lho portátil  para radiografias de pacientes no leito das enfermarias, que não podiam se locomover até a sala de exame. Nesse Serviço de Radiologia eram feitos todos os exames que os médicos solicitavam, dentro ou fora do Hospital, pois não havia nenhuma clínica particular, nem  havia também médicos radiologistas. Posteriormente, A Secretaria de Saúde atendendo nossa solicitação, comprou um novo  aparelho de raios-x da marca SHIMADZU, DE 500 mA. O próprio médico que solicitante olhava e interpretava as imagens, muitas vezes olhando  contra a luz do sol, através de uma janela  de um dos vários corredores do hospital. Era tudo muito empírico! A revelação dos exames era feita manualmente, em tanques de revelador e fixador, usando as velhas colgaduras de aço inox, as quais eram dependuradas  dentro de secadoras para a devida secagem. Quando ainda acadêmico de medicina em Belém-PA, eu vinha passar férias aqui em  Pôrto velho, estagiava naquele Hospital e essa era a nossa realidade.



     ALFREDO SILVA
    1º Tecnico Operador de Raios-X  em Rondônia.






O primeiro técnico de Raios-X que tenho lembrança, no antigo Hospital S. José, foi o Sr. Alfredo Silva, dedicado e zeloso na realização dos exames radiológicos. Em       1969,  chega ao setor o Tec. de Raios-X , Sr. Sebastião Vieira, que prestou grandes serviços aquele Hospital. Antes deles, apenas temos vaga lembrança de um cadastro torácico que era feito através de AREUGRAFIA por  um grupo de médicos          e enfermeiros, os quais vinham periodicamente a Pôrto Velho, creio eu que através da Fundação SESP.  
  





Na sequência, outros profissionais foram chegando, tais como os Tecnicos Carlos Corino, Nivaldo,Antônio Batista, Ana Amélia, Ivone,Rivaldo de Jesus Alves Vieira, Oziel de Jesus Vieira, Gilmar das Graças Soares e Ranolfo. O Tec. Pedro Paulo Barros Reis, vindo do Estado do Rio de Janeiro-RJ, foi o primeiro técnico formado  em Escola de Tecnico de Radiologia a chegar a P.Velho..Veio com um grupo de médicos, dentre os quais o Dr. Ronaldo Lanes Lima, que era radiologista, formado no Estado do Rio. Mais tarde, o Dr. Ronaldo Lanes  construiu a primeira Clinica Radiologica particular do Estado, que hoje é a Clinica do Dr. Enoch. Em 1977  eu voltava a Pôrto Velho, já  como médico es
pecialista em radiodianóstico para trabalhar no Hospital São José  e,  assim,  tornava-me o primeiro médico radiologista Titular do Colégio Brasileiro de Radiologia ( CBR )  em Rondônia. O terceiro médico radiologista a chegar a Pôrto Velho em 1981 foi o Dr. Ronaldo Fabel, formado em  Minas.
No Serviço de Radiologia do Hospital São José havia um arquivo de exames onde eram selecionados os casos clínicos mais interessantes.
Esse arquivo  de exames radiológicos, posteriormente, eu mesmo passei a organiza-lo. Servia como fonte de aprendizado e como um cordão umbilical  que nos unia a meritória dedicação acadêmica.
Éramos todos interessados em realizar bons exames  e, abro aqui uma lacuna para narrar um fato dramático e, ao mesmo tempo, cômico:   Chegara ao Hospital São Jose um colega médico especialista em neurocirurgia e estava estudando a possibilidade de ficar trabalhando por aqui. Certo dia ele me procurou e perguntou da possibilidade de realizarmos uma arteriografia cerebral em certo paciente que seria a p rimeira neurocirurgia a ser realizada no então Território Federal de Rondonia. Expliquei-lhe as dificuldades para que pudéssemos realizar aquele exame, uma vez que não dispúnhamos de passador rápido de chassis ( que chamávamos de AOT)  nem técnicos que tivessem experiência nesse exame. Mesmo assim, o colega com toda a boa vontade, explicou que talvez pudéssemos contornar essa dificuldade se colocássemos 3 técnicos enfileirados, com seus respecti vos aventais plumbíferos, cada um segurando um chassis. Então, o meio de contraste seria injetado rapidamente pelo próprio neurocirurgião na carótida do paciente, faríamos o primeiro disparo do raios-X, os técnicos que estavam enfileirados  iriam trocando rapidamente os chassis na sequencia. Ele achava que talvez pudéssemos pegar pelo menos uma fase arterial precária, que pudesse orientá-lo na primeira neurocirurgia em Rondônia. Topamos realizar o exame, mas confesso que foi  mais por insistência do colega!  Preparamos a sala, orientamos os técnicos que iam ficar postados em fila para trocar os chassis, foi puncionada a carótida do paciente e injetado o contraste rapidamente. Ao final da injeção, o neurocirurgião ordenou o primeiro, segundo e terceiro disparos de raios-x, o que foi feito na sequência, como havia sido combinado.  Ficamos na espera do  técnico da “câmara escura” encarregado de revelar as películas. Acontece que ele já estava demorando muito para abrir a porta e nos mostrar os resultados do exame. Batemos então a porta, sem nenhuma resposta. O silêncio continuava lá dentro, sepulcral. Algumas batidas mais mais fortes  e, finalmente, a porta se abriu. O técnico  estava completamente pálido, lívido como uma vela, suado e  a ponto de ter uma síncope! Foi então que, quase murmurando, olhou para todos nós e disse: eu esqueci de colocar os filmes nos chassis!!!!... Era uma sexta-feira e, a noite, encontrei o colega neurocirurgião já no aeroporto Belmonte, com sua mochila,fazendo o “check-out” na  companhia aérea. Chamou-me para se despedir, pois estava indo embora e não pretendia mais voltar. Falando quase num cochicho,  desabafou:  Samuel, talvez daqui a uns 50 anos vocês vão estar aptos a faze exames de arteriografia cerebral !...Nunca mais encontrei  esse colega!
Com a inauguração do Hospital de Base Ary Pinheiro, em 1982, chegava ao fim a heroica existência do Hospital São José. Novas salas, novas máquinas, tudo novinho que dava gosto de trabalhar! O Serviço de Radiologia  do antigo hospital foi então transferido, ou melhor,  apenas a equipe de médicos, técnicos e auxiliares. Não se passaram os 50 anos profetizados por aquele colega, e nós já começamos a fazer arteriografias não só cerebrais, mas também aortografias, flebografias e outros exames vasculares, pois já dispúnhamos de equipamentos radiológicos adequados. Nessa fase ganham destaque nas arteriografias cerebrais os neurocirurgiões  Drs. Ary de Macedo Jr. e Pedro Luiz R. Iankowski. As aortografias eram realizadas pelo cirurgião vascular Dr. Fernando Rodrigues da Silva.
Mas, as coisas não foram  tão simplórias como podem parecer! Nossos técnicos não tinham formação, precisavam  fazer curso de técnicas radiológicas, com carga horaria definida pelo MEC, fazer prova, receber certificado, etc. Foi então que o Hospital de Base, com  absoluta necessidade de pessoal técnico em todas as especialidades, montou um programa de larga escala, visando a capacitação técnica  de  pessoal. Juntamente com o Tec. Pedro Paulo e mais dois técnicos contratados no Rio de Janeiro  (Antonio Rocha e Donato Durão Xavie.) montamos um curso para todos os antigos técnicos,  com o objetivos de capacitá-los e legaliza-los na profissão de técnico operador de raios-x. Ao final de dois anos, tivemos o prazer de entregar seus certificados. Muios deles, até hoje, desempenham sua profissão, outros até já estão aposentados!
Assim foi que nossa especialidade começou  e frutificou aqui nestas terras de Rondônia! Temos hoje inúmeros médicos radiologistas, Titulares do Colegio Brasileiro de Radiologia (CBR)  ou não,atuando em todo nosso Estado, nas diversas modalidades da chamada Imagenologia ou seja, do Diagnóstico por Imagem, com equipamentos sofisticados, de ultimas gerações, tais como Equipamentos radiológicos telecomandados, Tomografia Computadorizada de Múltiplos Canais, Ressonância Magnética Nuclear,  Ultra-Sonografia 3 e 4 D, Medicina Nuclear, Densitometria Ossea, etc. Somos hoje uma das especialidades médicas que mais cresce, embalada pelo avanço continuo e sempre crescente da   informática, dos softwars e hardwars.      

            

Samuel Castiel Jr.
                                                                                                                       
Medico Radiologista – Membro Tiitular do CBR
Presidente da Associação de Radiologia e Diagnóstico por Imagem de Rondônia – ARDIRON
www.ardiron.com.br


 

Um comentário:

  1. Resgatar essas pérolas, além de trazer conhecimento contribui para o futuros trabalhos historiográficos...

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