quarta-feira, 18 de julho de 2012


Reflexões Noturnas

Altas horas, madrugada em curso! Noite cálida de um verão tórrido e abrasador, aqui, abaixo dos trópicos! Só, da sacada de meu apartamento, espreito o silêncio desta madrugada, quebrado vez por outra pelo ronco e os faróis de um carro que passa....A brisa úmida que começa soprar levanta folhas secas e papéis que dormiam atirados ao solo. Um cachorro vem de longe, sem latir, sozinho, e desaparece no final da rua. A cidade inteira parece adormecida! Milhares de lâmpadas piscam em todas as direções. O céu estrelado completa essa harmonia silente!
São nessas horas mortas que a insônia me leva a refletir sobre a origem e objetivos da vida, sobre o destino e a trajetória dos seres humanos. Nada mais patético! Logo mais, ao amanhecer, todos estarão em mais um dia de rotina, fazendo sempre as mesmas coisas, desafiando e sendo desafiados, as novas conquistas, numa competitividade cada vez mais acirrada, sem fim. Logo, alguns vão morrer, vão se matar ou serem mortos, tendo conquistado ou não seus objetivos, acumulados de conquistas, vitórias e derrotas. E daí surge mais uma elocubração: e no pós-morte tudo se acaba, vira pó, ou entramos em uma outra dimensão, outro mundo melhor (ou pior)?. Em outras palavras: vai dar Allan Kardec ou Sir Charles Darwin! Infelizmente esta questão não é tão simplória assim, não se pode “pagar-pra-ver” como no pôquer. Não podemos blefar! Em nenhuma das teorias tanto no espiritismo como na seleção natural, jamais poderemos saber quem foi o vencedor. Até porque não vão restar nem vencidos nem vencedores. Para este mundo todos estaremos mortos!...
No início da rua surge o vulto de um homem, que vem a passos lentos, com se estivesse cansado. Aproxima-se cada vez mais, então, pára e bate a porta do Colégio Salesiano Dom Bosco. São batidas insistentes, fortes, quase incomodativas. Sob a luz do poste poderia ver o seu rosto, não fosse o boné que usava. Sua roupa bastante amarrotada, como se viesse de sua rotina de trabalho que terminara àquela hora. As batidas à porta daquele estabelecimento não tiveram nenhuma resposta, e seus ecos ficaram reverberando nos meus ouvidos. O homem então, solitário, parte desaparecendo no final da rua, na escuridão!
Fico então a pensar que aquele homem sou eu, em busca de tantas respostas que jamais obterei. As portas não se abriram e mesmo que tivessem se aberto, não teria eu as respostas para meus enigmas e fantasmas. Fecho então a minha sacada e volto para tentar conciliar o sono perdido, com a mesma angústia que aflige todo ser humano que se debruça sobre a vida e a morte! Apago a luz!

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Samuel Castiel Jr.

Médico Radiologista
Membro das Academias de Letras e Medicina de Rondônia

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