quarta-feira, 26 de março de 2014

E AGORA Sr. XING ?

Samuel Castiel Jr.











        


          Xing Traív Sih Fu sempre foi um chinês nada ortodoxo. Filho de pai chinês e mãe coreana, não conseguiu diplomar-se em nada. Apenas conseguiu com sacrifício terminar o segundo grau. Mas era muito astuto para o comércio, tendo enveredado ainda jovem para o comércio exterior, exportando materiais pirateados, principalmente para os países da America Latina, como Paraguai, Bolívia e Brasil. Vendia de tudo, desde tênis de marcas famosas, perfumes, whiskys, ventiladores, lanternas e uma infinidade de bugigangas e produtos que representavam o sonho de consumo de povos daqueles países. Os preços eram atraentes e, sem fiscalização eficiente nas aduanas de fronteira, esses produtos eram comercializados em grande escala, dando ao Sr. Xing uma grande margem de lucro, o que o tornou rapidamente um empresário forte desse ramo. Rico e com sua empresa de exportação em franca ascenção, o Sr. Xing ao longo de sua vida foi adquirindo gostos refinados. Com sua mansão em bairro nobre de Kuala Lumpur, Malásia, gostava do que era bom. Frequentava os melhores restaurantes da cidade, tomava os melhores chás, fumava os melhores cigarros e charutos do oriente e frequentava as melhores casas noturnas da Capital da Malásia. Casado com Jia-Li, uma ex-gueixa japonesa, que além de “expert” em bons tratos e carícias, era também esgrimista de sabre e “faixa preta” do 5º DAN em jiu-jitse. O Sr. Xing, que costumava  tratar a todos como se seus empregados fossem, respeitava  Jia-Lin como ninguém, incondicionalmente. Bastava que ela lhe desse um olhar pela fenda oblíqua de seus olhos  para que ele se desmoronasse em pronta subserviência. As vezes ficava pensando se era amor ou medo o que sentia por Jia-Lin. Esposa delicada, sempre pronta para satisfazê-lo. Na cama era ainda aquela gueixa que conhecera a tantos anos atrás. Tinha uma beleza exótica e feições inteligentes no estilo oriental. Dera a Xing um casal de filhos que eram tratados com muito amor e zelo. Quando eram pequenos ocupavam o casal quase em tempo integral. Mas agora que já estavam cursando faculdades,  paravam muito pouco em casa, deixando o casal mais livre para suas atividades. O Sr. Xing gostava de Fórmula 1 e também de jogar xadrez.  Sempre que podia frequentava o Kualla Xadrez Club onde participava de jogos e campeonatos, já conquistando alguns troféus que guardava em um armário envidraçado e estilizado em sua mansão.
           Com o passar do tempo, Sr. Xing começou a entediar-se da rotina de seu escritório e também de Jia-Lin. Passou também a beber mais whisky do que devia. Começou a frequentar casas noturnas, onde assistia shows de famosas “streeps”. Foi num casa de shows de Kualla Lumpur, no bairro nobre de   Litle India que conheceu  Da-Xia, famosa “streeper”chinesa. Foi amor a primeira vista. Depois do show mandou chamá-la para sua mesa e ofereceu-lhe boas doses de whisky. Não demorou mais que alguns meses para propor a Da-Xia que fossem morar juntos. Como era casado, propôs comprar um apartamento em um bairro distante do seu, onde pudessem desfrutar do amor que sentiam um pelo outro. Da-Xia estava empolgada com tudo que o Sr. Xing lhe oferecia. E retribuía com as delicias de seu corpo jovem e seu sexo vibrante. A verdade é que o Sr. Xing estava cada vez mais apaixonado por sua amante. Por outro lado, sua esposa já andava desconfiada de suas atitudes e dos horários que passou a chegar em casa, as vezes tarde da noite, sempre com a desculpa de que os negócios o estavam consumindo cada vez mais. Até o sexo de sua esposa que tanto gostava, passou a não ser mais o seu desejo. Precisava fazer alguma coisa para ficar mais tempo com sua amante Da-Xia. Mesmo morando sozinha em um apartamento de bairro nobre da Capital Malaika, Sr. King passou a ter um ciúme doentio de sua amante, pois temia que ela voltasse para o “Streep show”. Encontrava-se com ela em apenas alguns dias da semana, o que o deixava nervoso e inseguro. Foi aí que na sua cabeça  começou a surgir a ideia de  arquitetar um plano que lhe desse o álibi para passar alguns dias colado com sua Da-Xia, vivendo um grande amor, só os dois. Poderiam até viajar para algum lugar paradisíaco em uma ilha distante e viver o sonho da liberdade  e com muito amor. Depois de passar dias arquitetando seu plano, concluiu que teria que inventar para a sua atenta esposa, uma viagem de negócios, onde passaria pelo menos uma semana viajando pela China, visitando grandes fabricantes  de produtos que pudessem dar suporte para uma grande exportação desses produtos para países da América Latina. Mas tudo teria que ser milimetricamente planajado, pois sua querida esposa era inteligente , astuta e já estava desconfiada.
            Tsai Hong era um vietnamita, homem da mais irestrita confiança do Sr. Xing. Trabalhava com ele a mais de vinte anos, quando  começara vendendo incensos perfumados e sandálias coloridas nas ruas e feiras  de Kuala Lampur. Ninguém melhor do que ele para ajudá-lo a executar  seu plano. Marcou sua viagem para Pequim de onde seguiria para outras cidades próximas, sempre com o intuito de visitar e comprar de fabricantes os mais variados produtos e bugigangas, quase tudo pirateado com perfeição como só os chineses são capazes. Só assim conseguiria preços mais baratos, o que lhe renderia maiores lucros. Quando contou seus planos para sua esposa, esta não disse que sim nem que não, contentou-se apenas em lançar-lhe um olhar obliquo e ambíguo. Claro que o Sr. Xing não disse a ela que na realidade quem iria viajar em seu lugar seria seu fiel amigo e colaborador  Tsai Hong, enquanto ele tomaria outro rumo com sua musa, a sensual  Da-Xia, para umas férias numa ilha paradisíaca bem longe dali. Tomou  e pagou todas as providências para tirar novo passaporte e demais documentação necessária, pois Tsai Hong teria que viajar com seu nome e seus documentos, uma vez que sua inteligente  e astuta esposa Jia-Lin poderia checar o seu embarque nas companhias aéreas. Tudo pronto, tudo acertado, o Sr. Xing não se continha de ansiedade, contando regressivamente os dias que faltavam para o início daquela semana que seria inesquecível, longe de tudo e de todos, principalmente bem longe de Jia-Lin.
              No dia do embarque, já com as malas prontas, despediu-se da esposa e dos filhos, colocou as malas na sua mercedes, ajudado pelo motorista Jarbas Shing, e ordenou:
--- Para o aeroporto de Kuala Lumpur.
--- A que horas é o seu vôo, Sr. Xing?
---Decolando as 16:00h.
---Ainda é muito cedo. Agora que são 12:30 h, Sir.
---Não quero chegar em cima da hora.
          No seu plano tudo estava milimetricamente pensado. O motorista tinha que ter a certeza e a convicção de tê-lo deixado no aeroporto. Não poderia ser seu cúmplice, pois poderia dar com a língua nos dentes caso fosse inquirido por sua esposa.
          Ao descer no aeroporto, despediu-se do motorista e dirigiu-se para um quiosque já no interior  do hall do aeroporto, onde havia marcado encontrar-se com Tsai Hong, para os detalhes e orientações finais. De lá seguiu para a saída do aeroporto e tomou um taxi, dirigindo-se para o sul de Kuala Lumpur.
           Encontrou sua amada Da-Jia esperando por ele em seu apartamento. Vestia apenas uma Langerie deixando suas curvas bem visíveis e mais sensuais. Algumas varetas de incenso queimavam no ambiente, deixando no ar um perfume suave e misterioso. Sr. Xing abraçou-a com força e disse:
---Pronto, meu amor: finalmente a sós! Voaremos amanhã cedo para as ilhas paradisíacas da Oceania. Serão sete dias e sete noites inesquecíveis, de amor e sexo. Quero desfrutar todo esse seu corpo em todo seu esplendor! Abra um Champagne francês, e traga também um pouco de caviar. Infelizmente não poderemos brindar  até tarde hoje porque o nosso voo é amanhã bem cedo, as 06:00h da manhã.
              O despertador os acordou as 04:00h. Enquanto o Sr. Xing pegava uma ducha quente no seu banheiro, Da-Jia ligou a TV local no canal de notícias. Depois de ouvir algumas notícias, correu até o banheiro, bateu a porta e chamou:
---Sr. Xing, Sr. Xing! Ouça o que acabo de ouvir no noticiário local: o voo MH370 da Malaysia Airlines, com 239 pessoas a bordo, sendo 227 passageiros, inclusive 2 crianças, e 12 membros da tripulação, está desaparecido. Não chegou a Pequim. Não era esse o seu vôo, meu amor?
---Era.
              Não viajaram mais. Passaram o resto do dia trancados no apartamento ouvindo o noticiário, que dava conta de que algo misterioso teria acontecido com aquele voo. Poderia ter sido um ato terrorista, já que dois passageiros embarcaram com passaportes falsos. Mas as notícias que chegavam estavam desencontradas. Não havia nenhuma certeza a não ser que o Boeing B777-200 da Malaysia  Airlines, um modelo dos mais sofisticados do mundo tinha desaparecido, perdendo o controle com as torres e não tinha sido rastreado por nenhum satélite de vários países.
              O Sr. Xing olhava incrédulo para Da-Jia, sem ter o que dizer e sem sentir mais nenhum tesão por ela. Continuou sem ter o que dizer quando ela lhe perguntou:
--- E agora, Sr. Xing?

PVH-RO, 26/03/14

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