quinta-feira, 20 de junho de 2013


O  SONHO DE VOAR
Samuel Castiel Jr.

Bandidos, assassinos cruéis

Perseguiam meu carro pra me matar!

E eu fugia com asas velozes, fiéis

Cantando os pneus do meu velho Jaguar!

 

Metralhadoras surgiram disparando

E os vidros foram se estilhaçando!...

Virei a direita, a esquerda e pisei mal

No freio, dei um “cavalo de pau”!

 

Furiosos  também eles foram voltando

Pegando o vácuo, no meu carro atirando!...

Impiedosos,  queriam apagar-me de vez!...

Quando o Jaguar inclinou-se eu senti

 

 Era o pneu estilhaçado,  explodindo
 
Com  mais uma rajada de tiros! Insensatez!...

Saí então do Jaguar furado, a cabeça rodando

Corri  e já no ar  me senti voando!...

                                                                                                            PVH-RO, 20/06/13

terça-feira, 18 de junho de 2013


MASSA DE MANOBRA

Samuel Castiel Jr.

 

 

 

 
Aonde vai essa turba ensandecida

Deixando um rastro de destruição?

Depredando e atirando bombas molotov,

Saqueando e expondo sua própria vida!

 

Rostos cobertos, palavras de ordem

Cartazes, megafones na mão

Polícia! Cavalaria! Todos fogem

Gás lacrimogêneo, fumaça e pimenta

 

Caos, tumulto, o fraco se arrebenta

Balas de borracha cruzam a multidão,

Caem os feridos, o sangue  no rosto,

A batalha é cruel e desigual!...
 

Ao final desse massacre de rua

Contabilizam mortos e feridos!

Os jovens acham que lutaram com raça,

E os políticos é que manobraram a massa!...

                                                                                                   PVH-RO, 18/06/13

SEIS HORAS

 Samuel Castiel Jr.

 

 

Seis horas da tarde!

Fluidos de mistério e de ansiedade

misturam-se nas grande mãos

da noite que desce...

Sinto que existe

uma invisível cortina

que também desce c om a noite

e faz brotar de dentro de nós

esse indomável silencio!...

E, ao contemplar mais essa noite

que chega,

compreendo que existe

uma grande  barreira entre nós

toda feita e tecida

nas malhas do silencio,

nas malhas da vida!...

                                                                                                                 PVH-RO, 17/06/13

segunda-feira, 17 de junho de 2013


O  PIOLHO

 

 

            Apelido é uma coisa que pega!  E existem pessoas que são “experts”  em colocar apelidos. Basta chamar a primeira vez que pega!  Com o Jorginho foi assim. Lembra-se  que ainda na infância,  pegou  uma parasitose de piolho que  foi difícil  acabar. Sua mãe  gastou várias latas de Neocid e acabou tendo que raspar sua cabeça e sobrancelhas, já todas feridas de tanto coçar. Na hora do recreio,  na escola do primeiro grau, costumava  jogar futebol com a garotada. Alguém que não sabe quem, certo dia, quando ele pegou a bola e ficou sozinho   de frente para o gol, gritou bem alto -- chuta piolho! Pronto! Foi o suficiente para todo mundo passar a chamá-lo de piolho. E daquele dia em diante passou a sofrer de “bulling”  primeiro na escola, depois na rua da sua casa, no primeiro e segundo  graus, por onde andava, sempre  teve que conviver com esse apelido que detestava! Primeiramente adotou atitudes que sua mãe sugeriu, ou seja, tinha que ser indiferente.  Fazer que não estava nem aí!  Quando lhe chamassem por esse apelido, não devia atender! Não deu certo. Ficava incomodado. Depois passou a pedir amigavelmente que lhe chamassem pelo nome: JORGINHO. Mas não adiantava, sempre  era piolho pra cá, piolho pra lá.  Já adulto, passou a freqüentar a academia e a praticar judô. Levantou  muito peso, puxou muito ferro, deu muito traço nos adversários  em cima do tablado! Ficou “bombado” com músculos  volumosos, que exibiam veias  azuladas, grossas e tortuosas sob a pele. Pensou, e chegou a conclusão de que ia acabar com aquele maldito apelido por bem ou por mal!  Avisou a todos que não aceitava mais aquele apelido. Tinha sido coisa do passado, quando ainda era criança! Agora era outra fase de sua vida. Era um rapaz do bem, desportista, chegara até a faixa preta do judô! Tinha namorada, amigos e amigas. Seus pais também não gostavam daquela  maldita  alcunha! Dava a impressão que era  sujo, que estava sempre parasitado pelos ftirápteros. Aos poucos o apelido foi desaparecendo nos meios que mais freqüentava: o clube e a academia de judô.  Certo dia, já  andava até meio esquecido desse apelido, quando chegou  ao Clube  num domingo para nadar um poço na piscina. Era também um bom nadador, fazia com facilidade  dez  voltas indo e vindo na piscina semi-olimpica. Quando  estava  começando  seu alongamento para cair n’agua, eis que ouviu alguém gritando escandalosamente, do outro lado do complexo aquático:

-- Piolho! Tenho certeza que é você!  Olha pra mim piolho!                                                           

    No início, ficou estático, fez de conta que não era com ele!  Mas, aquela voz irritante, remeteu-lhe  ao antigo “bulling” da escola:

-- Piolho, é teu colega do “ Classe A” o Alfredinho! Pensava que eu não ia te reconhecer, né?  Olha pra mim piolho!  A galera toda que estava na piscina e também nas outras quadras de esportes, parou! Ficou aquele silêncio!  Não tinha outro jeito. Virou a cabeça e encarou o tal Alfredinho.  Era ele mesmo! Baixinho, entroncado, com um cavanhaque bem fino e uma cara de eterno gozador que o fazia  parecer sempre sorrindo da desgraça de alguém! Respirou fundo e sem alongamento caiu na piscina. Foi até a outra borda e voltou! Parou, sentou-se na borda da piscina achando que aquele idiota o tinha esquecido!... Mas, agora, ainda mais perto do seu ouvido, o gritou outra vez:

--Piolho, seu ingrato! Tu não me conhece mais?  Mas eu te conheço ainda e muito bem! Tu és o piolho! Não vai me enganar com essa musculatura toda! Agora tu és o piolho “bombado”!  E aquela risada parece que  ecoou em todo o Clube. Todos continuavam olhando para aquela cena com a qual ele já até nem estava mais acostumado.  Falou:

-- Não me chame mais pelo apelido! Aquilo foi coisa do passado!  Meu nome é Jorge!

-- Jorge coisa nenhuma, cara! Tu é o piolho e vai ser o piolho de sempre!  Ouviu algumas  risadas em volta deles.

-- Pare com isso! Eu conheço você, mas por  favor me chame pelo meu nome. Não gosto de ser chamado por esse apelido!

-- Porque isso agora, cara? Só porque ficou fortão? Mas pra mim tu continua sendo o P-I-O-L-H O!

    Jorge levantou-se, aproximou-se do tal Alfredinho e disse-lhe  quase  sussurrando:

-- Se você não parar com esse apelido, vou bater em você!

-- Que é isso, rapaz! Agora a violência?! Vem  me  ameaçar só por causa de um piolho?! E dobrou aquela gargalhada!

     Jorge então primeiro deu-lhe um empurão que o fez cair na pedra quente de ardósia na pérgola da piscina. Todos que estavam por perto se levantaram!  Pairou no ar o suspense  que antecede o chamado “ vias- de- fato “!  Deu um golpe em seu braço, um soco na altura do estômago e o atirou na na parte funda da piscina! Antes que alguém chamasse o segurança, o Jorginho deu-lhe as costas, pegou sua toalha e foi saindo calmamente.  Já lá na frente, ouviu muitas risadas e então resolveu olhar para trás. O que viu quase o matou de ódio e cólera: o Alfredinho, ainda mergulhado na piscina, com os dois braços  levantados  para fora d’água, fazia um gesto de esmagar alguma coisa  minúscula  entre as unhas de seus polegares!...

                                                                                                                           PVH-RO, 13/06/13

terça-feira, 11 de junho de 2013


"ENTIDADE" TAMBÉM TEM PRESSA

 Samuel Castiel Jr.





      Agnóstico,  cético, ateu  e outros termos  sempre me foram atribuídos  quando se discute o imponderável e outros assuntos metafísicos, de mediunidade ou  de para-normalidade.  Acontece que entre o céu e a terra, muitas coisas existem que não tem  explicação! Com essa assertiva bíblica, sempre me pautei com muito cuidado quando esbarro com esse assunto!  As vezes me pego, eu mesmo fazendo o papel de advogado do diabo, e então acabo  recebendo todos esses adjetivos,  quase sempre injustos, precipitados,  no meio de polêmicas acaloradas! Até os Objetos Voadores Não Identificados (OVNIs) já serviram para questionamentos que ficam sempre sem  respostas!  Procurando dar maior embasamento para essas questões, preferi  ir ver pessoalmente como esses rituais todos se processam nos diversos centros de mediunidade.  Visitei vários “terreiros” de umbanda,  participei de festas em datas comemorativas, deixei que ciganas sujas e coloridas lessem as minhas mãos, paguei para que jogassem búzios e cartas, ouvi cartomantes e videntes, sempre com o olhar crítico,  mas na realidade  procurando encontrar respostas para minhas próprias indagações. O que vi deixou-me algumas vezes mais intrigado, outras vezes mais confuso e na maioria das vezes fortemente revoltado! Rituais de vodu com imolação de animais, oferendas de sangue quente a entidades perversas! Verdadeiros banhos de sangue eu presenciei! Copos que se movem sobre as superfície da mesa, escrevendo mensagens do além! Vozes conhecidas que respondem perguntas de familiares inconsoláveis! Mensagens de paz e consolo que vem do além!
     Nos dias de festa de Iemanjá segui todos os passos, vestido de branco, joguei flores ao mar! Acompanhei de barco a procissão da deusa das águas!...

      Vi bocas de sapos costuradas com o nome de pessoas desafetas, para que definhassem enquanto o bicho fosse secando!...

      Andei com pessoas que colocavam “despachos” nas encruzilhadas  toda segunda-feira, com garrafa de “marafo” e galinha preta!

      Mas, entre tantas formas e ritos populares, alguns  grosseiramente feitos para contemplar o mal, outros nem tanto,  praticados  mais por pessoas rudes e ignorantes,  sempre tive a curiosidade de saber como é que certas pessoas incorporam “caboclos”, passam a noite  fumando  charutos, baforando a cabeça dos outros e bebendo duas ou mais garrafas de cachaça, sem cair ou sequer ficarem bêbadas!
     Quando certa vez fui a um” terreiro”, chamado Terreiro do Samburucu, em Porto Velho, Rondônia, procurei despir-me de qualquer  olhar cético, mas algo chamou-me a atenção: a “cabocla” pomba-gira baixou em uma mulher  de mais ou menos  30 anos, a qual começou a falar grosso, gemer, pediu charutos e cachaça. Tudo lhe foi entregue e ela começou a dançar freneticamente sob o ritmo alucinante dos tambores!... Acontece que, entre um  gole e outro e umas  baforadas  do charuto, rodava com os cabelos soltos jogados pra frente do rosto, e de vez em quando, disfarçadamente, olhava para o seu relógio de pulso, conferindo a hora. Quando terminou sua incorporação,  segui de longe a moça que acabara de desincorporar a “cabocla”, a qual foi as pressas para a parada de ônibus, entrando no primeiro circular que passou!  Intrigado com o que eu acabara de presenciar, fui até o “pai-de-santo”e, contando-lhe que testemunhara por  varias  vezes a “pomba-gira” conferir a hora em seu relógio e depois sair quase correndo para pegar o ônibus circular. Perguntei-lhe então:

-- Como é que uma “cabocla” que está incorporada, dançando, bebendo cachaça e fumando, fica todo tempo conferindo a hora para não perder o ônibus ?
-- É que  "entidade" também tem pressa, meu filho! – respondeu o pai-de-santo, soltando uma baforada forte de fumaça que envolveu o meu rosto!...

                                                                                                                                  PVH-RO, 10/06/13