terça-feira, 10 de agosto de 2021


 A Consciência do Tempo






“O que importa o tempo? Há amigos de oito dias e indiferentes de oito anos”. (Machado de Assis )

Samuel Castiel


O tempo é sempre o mesmo, nós os homens é que mudamos. E

mudamos sempre! Estamos em constante evolução. Geração apos

geração vamos mudando de hábitos, de comportamentos, de gostos, de

cultura, de ciência, de tecnologia, de tudo enfim. É como se fossem as

camadas de rochas sedimentadas pelos anos, uma sobre as outras, e que

permitem aos geólogos a aferição precisa dos milhares e milhões de anos

do passado, como se fosse uma trilha sedimentada, um mapa do tempo.

Portanto somos todos os mesmos, evoluímos com o tempo mas é o

tempo que passa e vai nos sedimentando geração pós-geração.

Vemos então o saudosista relembrando sua infância, sua adolescência,

as musicas que ouvia e cantava. Reclamando hoje do mau gosto musical

das obras de arte sem sentido, da falta de cultura do desinteresse pela

leitura, etc. Mas, o que acontece é que o tempo passou! Nós somos os

mesmos. Apenas evoluímos.

Nossos meninos e meninas das gerações passadas brincavam de pipa

(papagaio), peteca, estilingue, bola de futebol etc. E, as meninas gostavam

de bonecas, pulavam corda, jogo da macaca, etc. Hoje eles não mais se

interessam por isso. A geração Steve Job, quer e domina os

computadores, os joguinhos da tela.

Enfim, temos que ter essa consciência do tempo para não cair em

depressão, por achar que estamos envelhecendo. Não! Nós somos os

mesmos: o tempo é que passa!...

quinta-feira, 27 de maio de 2021

 


O RETORNO 

Samuel Castiel 

            


            


                       
               Ela estava exausta! Andara a noite inteira pela escuridão. Muitas vezes achou que ia desmaiar. Estava com os pés inchados, cheios de calos, com bolhas d'agua e ferimentos. E, chegou a pensar um dia que ia finalmente ser feliz depois que aquele maldito marido se foi. Mas, sabe como é seu doutor, vida de roça não é fácil não! E principalmente quando se está sozinha! Livrei-me daquele traste, livrei-me das surras que ele me dava e agradeci a Deus o dia que ele resolveu ir embora. Não vou dizer que, de vez em quando, não senti falta do seu aconchego de macho, porque estaria mentindo. Afinal, ninguém é de ferro!... Mas, um dia ele voltou! Cheio de promessas foi ficando e ficou. No início correu tudo bem. Até que ele ajudava - não nego! Mas aos poucos não saía mais da rede, com a garrafa de pinga ao lado. A noite quando eu voltava da roça, lá estava ele bêbado e com muita fome...Esquentava sua comida ouvindo ameaças e seus xingamentos! Quando foi ontem, Doutô, ele tava pra lá de bêbado, sentado na cama. Já tinha tirado o cinturão pra me bater. -- Vitorina, sua filha-da'puta! Traz logo a porra desse jantar ou eu vou te dar outra peia sarada!... 

---Vou te quebrar no cinto! -- 

---Tá aqui sua sopa Ambrósio! 

                Ele encheu a colher e engoliu. Na sequência atirou o prato que se espatifou contra a parede! -- Sua vadia! Vai esquentar direito essa sopa ou eu te mato de porrada!!! 

-- Juro pro senhor, Doutô: quando eu voltei, ele tava estirado na cama, roncando, dormindo de peito pro ar e espumando pelos cantos da boca! Foi então que eu resolvi sair correndo e andei a noite inteira mata a dentro pra chegar até sua Delegacia. -- Eu juro que se eu tivesse ficado lá, ele ia me matar. 

-- E agora, o que que eu faço Doutô?!...

sábado, 8 de maio de 2021

A VACINA

 Samuel Castiel 



Em época de pandemia tudo fica mais difícil, mas principalmente para o idoso. Depois de uma quarentena cruel e monótona, o idoso já se encontra no seu limite físico e mental. Sente dores em todos os músculos e articulações. As artroses e artrites quase os matam. A mente entediada começa a dar sinais germânicos do Alzheimer. Mas, como está no grupo de risco, tem a gloria de ser do grupo prioritário. E assim consegue tomar a primeira dose. Porém, em que pese a sua satisfação pessoal, na realidade, tudo continua igual:  tem que continuar no isolamento social, usar álcool em gel, tomar os polivitamínicos e ferro todos os dias. Mas, finalmente, sua esposa também idosa, claudicante e cheia de limitações articulares, chega com a notícia:

--- Oriovaldo, vamos levantar bem cedo amanhã pois é o dia da nossa segunda dose. Finalmente, ficaremos imunes ao corona.

     Às 5 horas da manhã o casal de idosos se levanta, e se prepara para sair tomando apenas um café às pressas, pois a fila deverá  ser longa!

     Ao chegar no local, a fila já dobrava o quarteirão. Os velhinhos, velhotes  e velhões, todos com máscaras e conversando animadamente como se fossem receber a senha para o céu! Alguns com os olhares indecisos, perdidos, a maioria  de óculos escuros, bengalas ou cadeiras de rodas, mas sempre bem falantes e claudicantes. Uma visão interessante não fosse trágica! Ter que passar por mais essa no declínio de toda uma existência!...

     Mas o pior ainda estava para vir para o seu Oriovaldo e sua esposa!

 ---O senhor vai nos desculpar, seu Oriovaldo, porém a vacina acabou!!!