"ENTIDADE" TAMBÉM TEM PRESSA
Samuel
Castiel Jr.
Agnóstico, cético, ateu e outros termos sempre me foram atribuídos quando se discute o imponderável e outros
assuntos metafísicos, de mediunidade ou
de para-normalidade. Acontece que
entre o céu e a terra, muitas coisas existem que não tem explicação! Com essa assertiva bíblica,
sempre me pautei com muito cuidado quando esbarro com esse assunto! As vezes me pego, eu mesmo fazendo o papel de
advogado do diabo, e então acabo
recebendo todos esses adjetivos,
quase sempre injustos, precipitados,
no meio de polêmicas acaloradas! Até os Objetos Voadores Não
Identificados (OVNIs) já serviram para questionamentos que ficam sempre
sem respostas! Procurando dar maior embasamento para essas
questões, preferi ir ver pessoalmente como esses rituais todos se processam nos
diversos centros de mediunidade. Visitei
vários “terreiros” de umbanda,
participei de festas em datas comemorativas, deixei que ciganas sujas e coloridas lessem as minhas mãos, paguei para que jogassem búzios e cartas, ouvi cartomantes e videntes, sempre com o olhar crítico, mas na realidade procurando encontrar respostas para minhas
próprias indagações. O que vi deixou-me algumas vezes mais intrigado, outras
vezes mais confuso e na maioria das vezes fortemente revoltado! Rituais de vodu
com imolação de animais, oferendas de sangue quente a entidades perversas!
Verdadeiros banhos de sangue eu presenciei! Copos que se movem sobre as
superfície da mesa, escrevendo mensagens do além! Vozes conhecidas que
respondem perguntas de familiares inconsoláveis! Mensagens de paz e consolo que
vem do além!
Nos dias de festa de Iemanjá segui todos os passos, vestido de branco,
joguei flores ao mar! Acompanhei de barco a procissão da deusa das águas!...
Vi bocas de sapos costuradas com o nome
de pessoas desafetas, para que definhassem enquanto o bicho fosse secando!...
Andei com pessoas que colocavam
“despachos” nas encruzilhadas toda
segunda-feira, com garrafa de “marafo” e galinha preta!
Mas, entre tantas formas e ritos
populares, alguns grosseiramente feitos
para contemplar o mal, outros nem tanto,
praticados mais por pessoas rudes
e ignorantes, sempre tive a curiosidade
de saber como é que certas pessoas incorporam “caboclos”, passam a noite fumando charutos, baforando a cabeça dos outros e
bebendo duas ou mais garrafas de cachaça, sem cair ou sequer ficarem bêbadas!
Quando certa vez fui a um” terreiro”, chamado Terreiro do Samburucu, em Porto Velho, Rondônia, procurei despir-me de qualquer olhar
cético, mas algo chamou-me a atenção: a “cabocla” pomba-gira baixou em uma
mulher de mais ou menos 30 anos, a qual começou a falar grosso,
gemer, pediu charutos e cachaça. Tudo lhe foi entregue e ela começou a dançar
freneticamente sob o ritmo alucinante dos tambores!... Acontece que, entre
um gole e outro e umas baforadas
do charuto, rodava com os cabelos soltos jogados pra frente do rosto, e
de vez em quando, disfarçadamente, olhava para o seu relógio de pulso,
conferindo a hora. Quando terminou sua incorporação, segui de longe a moça que acabara de
desincorporar a “cabocla”, a qual foi as pressas para a parada de ônibus,
entrando no primeiro circular que passou! Intrigado com o que eu acabara de presenciar,
fui até o “pai-de-santo”e, contando-lhe que testemunhara por varias
vezes a “pomba-gira” conferir a hora em seu relógio e depois sair quase
correndo para pegar o ônibus circular. Perguntei-lhe então:
-- Como é que uma “cabocla” que
está incorporada, dançando, bebendo cachaça e fumando, fica todo tempo
conferindo a hora para não perder o ônibus ?
-- É que "entidade" também tem
pressa, meu filho! – respondeu o pai-de-santo, soltando uma baforada forte de fumaça
que envolveu o meu rosto!...
PVH-RO, 10/06/13
A "entidade" mora longe, Samuel e era o último ônibus da noite...
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