segunda-feira, 22 de abril de 2013


AMANHECER NO PANTANAL

                                         Samuel Castiel Jr.

 

 

 

 

 

 

 

É divino o amanhecer no Pantanal

Com milhares de aves coloridas

Que passam em revoada fazendo algazarra

Sôbre o espelho d’agua, plantas e musgos!

O sol nascendo lá no horizonte

Parece tocar fogo no cerrado verde!...

Existe em tudo uma perplexidade bela e plena

Que faz jorrar de dentro de nós

Sensação de encanto sutil e magistral!...

É divino o amanhecer no pantanal!...

A palmeira imperial elegante e verde

Não se acanha e até parece orgulhosa

De exibir enxame de insetos polinizando

E saboreando a seiva

De seus brotos palmeirais!...

É divino o amanhecer no Pantanal!

A onça pintada, o puma,

A elegante garça, o jaburu,

O crocodilo, o tuiuiú

Todos estão ali ao amanhecer!

Uma borboleta azul veio pousar

Na flor que se abriu

Como se me desse bom dia

Nessa ensolarada manhã de abril!...

Araras e tucanos multicores

Passam em bandos e toda a fauna animal

Sorrindo parece ter marcado aqui

Um encontro matinal!...

Ao longe surge o vaqueiro

No seu cavalo montado

Com o berrante anunciando

Que ele o homem também se encontra presente

Como o rei mais perigoso e venal

De todo o reino animal

Fazendo parte também

Desse cenário magistral!...

É divino o amanhecer no Pantanal!

                                                                                                               PVH-RO, 22/04/13

quinta-feira, 18 de abril de 2013


CAPITÃO “PORRETA”

                                               Samuel Castiel Jr.

 

 

 

 

 

              Aquela mesma turma já estava lá, reunida no bar. Era um sábado a tarde. A cerveja gelada e a pinga rolavam e o sol de verão fazia o calor ficar insuportável lá fora! Como era de costume, o Capitão Xavier chegou vestindo um bermudão com camiseta regata, e veio se juntar a todos, pois estava de folga no Batalhão da Polícia Militar(PM) onde comandava o Nucleo de Operações Especiais (NOE). Sua participação nessas rodadas de sábado a tarde já era certa e conhecida: gostava de cerveja gelada, bem como de contar bravatas e vantagens da corporação militar onde trabalhava, ou seja, no Nucleo de Operações Especiais que era constituído por homens de formação e treinamento especiais. Eram treinados para agir com rapidez e dominar as situações mais difíceis e complexas!

              Encostado no balcão do boteco, sempre estava um pinguço, freqüentador assíduo e diário do estabelecimento, e que adorava meter-se nas conversas dos outros, dava palpite, xingava todos que não pagassem um “gole” pra ele! Quando o Capitão chegava ou quando contava mais uma de suas façanhas, gritava bem alto:

__ Êta Capitão “Porreta”!

              Nesse sábado, o Capitão tinha acabado de chegar quando todos ouviram três estampidos secos e fortes que pareciam mesmo disparos de arma de fogo e que vinham de uma das casas vizinhas ao boteco, não muito distante dali. Houve movimentação de alguns adolescentes correndo em frente a essa casa. Imediatamente alguém da mesa falou:

__ Aí Capitão! Vai deixar o tiroteio rolar solto debaixo do seu nariz?!

               Outro gaiato também comentou botando pilha:

__ Podiam até ter acertado a gente aqui com uma bala perdida!...

               Foi o suficiente para o Capitão anunciar que iria acabar já com aquela situação: levantou-se, pegou seu celular e discou para a central da Policia Militar, Nucleo de Operações Especiais.

__ Aqui quem fala é o Capitão Xavier! Mande agora uma viatura para o seguinte endereço: Elias Gorayeb com a José Camacho. Foram efetuados alguns disparos de arma de fogo e precisamos checar e prender esses meliantes! Já estou na área esperando!

               Não demorou mais que dez minutos uma viatura da PM chegou ao local, apresentou-se ao Capitão, o qual foi logo mostrando a residência de onde teriam partido os disparos. Imediatamente os policiais saltaram da viatura já com as armas em punho e foram adentrando o portão da casa suspeita. Todos ficarm esperando, o boteco parou, até  a música batidão que tocava bem alto, foi desligada! Como se diz, ouvia-se ate o barulho de mosca voando!...Todos esperando pra ver qual o desfecho daquela situação. Alguns minutos se passaram e foi então que os policiais saíram da casa e vieram em direção ao boteco onde, de pé, os esperava o Capitão Xavier.

__ Licença Comandante! Tenente Afonso trazendo o resultado da operação!  

__ Pois não tenente! Qual o resultado da nossa operação?

__ Dois traques e um rojão pega-moleque!

__ Ok! Circulando Tenente! Circulando!...

             Foi então que todos ouviram a voz do pinguço gritando bem alto lá de dentro do boteco, encostado no balcão:

__ Êta Capitão “Porreta”!

 

Notas do Autor: *   traque e rojão pega-moleque são fogos           explosivos muito usados nas brincadeiras de São João.

                                *  qualquer semelhança com a estória e personagens terá sido mera coincidência

      

 

                                                                                                                                           PVH-RO, 18/04/13

segunda-feira, 15 de abril de 2013


O JUIZ E O PORCO

                                        Samuel Castiel Jr.

 

 


 

 

 

 

 

 

        Eram como popularmente se diz “carne-e-unha”. Compadre pra cá, compadre pra lá! Suas esposas estavam sempre juntas. Até que um dia, por questões dos  limites de suas terras, a amizade azedou e a compadragem acabou! Viraram inimigos e a briga foi parar na justiça. O compadre mais pobre contratou um advogado que era seu velho amigo e que cobrou um preço razoável por seu serviço. Mas o advertiu que seria uma demanda difícil, teria que usar muito tato e não garantia sair vitorioso. A outra parte tinha contratado um advogado experiente, de um escritório renomado na cidade. Seria um processo demorado e, apesar de uma sentença que lhe foi favorável num juizado de primeiro grau, houve recurso e agora tudo poderia acontecer, até mesmo perder a causa! O tempo passou, o processo foi todo instruído dentro dos prazos legais! Tudo transcorrendo normalmente. Um certo dia, o seu advogado e amigo o chamou para dizer-lhe que na semana seguinte o seu processo seria julgado.

-- Ótimo! – disse o compadre mais pobre. Consiga-me o endereço desse juiz!

-- Mas pra que? O que você pretende fazer?

-- Tive uma ideia, doutor! Vou mandar pra casa desse juiz um porco cevado daqueles que tenho lá na fazenda!

-- Pelo amor de Deus não faça isso! Vai colocar tudo a perder! Conheco o juiz que vai dar  a sentença final É um magistrado muito sério, dos mais rígidos do Tribunal! Além dele não aceitar o seu porco, vamos perder a causa com toda a certeza! Por favor – repito, não faça isso!

              Os dias passaram e chegou o dia do julgamento. O resultado foi favorável ao compadre mais pobre, que saiu vencedor. O advogado seu amigo correu para cumprimentar seu cliente e foi logo dizendo:

-- Não lhe disse que iríamos ganhar, desde que você não mandasse de presente aquele maldito porco!

-- Acontece que mandei!...

-- Não é possível! Não acredito!

-- Mandei sim doutor! Mas foi em nome do compadre rico!...

                                                                                                                                         PVH-RO, 15/04/13

sexta-feira, 12 de abril de 2013


O  DUELO

                 Samuel Castiel Jr

 

 

 

No céu azul e límpido nenhuma nuvem

                    se via

A poeira vermelha a cada passo das botas

                    subia

O silêncio pairava, nenhum barulho

                    se ouvia!

O sol, o calor, o suor salgado

                   escorria

O chapéu fazia sombra e seu rosto

                   escondia!

Em seus lábios e em todo o corpo

                   havia

Um tremor, um tic nervoso que

                   dizia

Que aquele outro homem que do Saloom

                   saía

Vindo em sua direção também

                   atraía

Os olhares de todos e até de quem já

                  fugia

Pra não assistir quem atirar primeiro

                  Iria

Num duelo mortal que ninguém

                 desejaria

Mas que naquele inevitável momento

                 acontecia!...

No velho oeste ou no sertão da

                Bahia!

Num piscar de olhos dois tiros e

                 caia

Não só um mas os dois que foram um

                 dia

Amigos mas pelo amor da mesma dama que os

                 traía

Tombaram juntos mortos em plena

                 via

Pela mocinha Leidy que a nenhum deles

                queria!...

                                                                                                                            PVH-RO, 12/04/13

quarta-feira, 10 de abril de 2013


TATUAGEM
( SE ARREPENDIMENTO MATASSE!)

                                               Samuel Castiel Jr.

 

        Desde adolescente que ele gostava de tatuagens! Acontece que seu pais, conservadores, não permitiam que ele sequer falasse na hipótese de fazer uma em seu corpo! Como também não aceitavam que colocasse brinquinhos em suas orelhas!...Macho tinha que ser macho! – dizia seu pai, um bancário rígido, ríspido e metódico. Mas ele adorava ver brincos e tatuagens em seus colegas do colégio. Em  vez disso, foi matriculado na Academia pra malhar, tomou bomba e foi ficando “marombado”:  bíceps enormes, marcados por veias azuladas proeminentes que mais pareciam canudos implantados sobre sua pele! A bunda redonda, entretanto, dava-lhe um acabamento afeminado, apesar dos músculos proeminentes e a ostensiva aparência de machão pegador! Atingida a maioridade, libertou-se dos grilhões paternos e ganhou o mundo! Viajou pela America Latina e pelo Caribe. Nessas suas andanças, viu e encantou-se por várias tatuagens! Entretanto, a que mais o fascinou foi aquela de uma loura “bombada”, lábios carnudos, seios fartos e que mandou tatuar definitivamente em toda sua costa. As madeixas louras caiam sobre os seios fartos e as nádegas dele eram os seios da loura, com os respectivos mamilos bem simétricos pintados e desenhados no centro. Perfeito! Uma obra de arte! Quando tirava sua camisa, era uma atração a parte! Todos queriam ver, até mesmo pegar aquela tatuagem que ele exibia, pegando toda sua costa e bunda! Chegou até a participar de concursos de tatoo, ganhando prêmios de destaque nas competições!

           Os anos foram passando e as deformidades e feitiches foram se acumulando em sua personalidade confusa e doentia.

           Certo dia acordou bem cedinho com batidas fortes a sua porta. Era a policia! Foi preso, acusado de pedofilia e estupro de menor. Mas, por instrução de seu advogado, foi internado as pressas em um hospital particular na véspera de ser transferido para um presídio estadual. Só pensava naquela tatuagem em sua costa!...Já tinha ouvido falar de como eram tratados os estupradores nos presídios! Estava arrependido de ter escolhido aquela tatuagem! Começou a achar que aquilo seria um atrativo apetitoso para quem estava por trás das grades!...O médico clínico, após examiná-lo, ficou confuso quanto ao diagnóstico, pois não sabia se aquele caso seria apenas um ataque de nervos, histeria, ou mesmo mais um caso de simulação! Tremia todo, chorava, soluçava, suava frio, sua pressão arterial subia e descia!... Diante desse quadro duvidoso, chamou a enfermeira e mandou que lhe aplicasse nas nádegas um “sossega-leão” muito usado nesses casos. Quando a enfermeira o virou de bruços ( ele estava vestido só com uma bata aberta atrás) o médico que estava ao lado entendeu de imediato o desespero daquele paciente. Naquela mesma tarde assinou sua alta hospitalar!

 
                                                                                                   PVRO,10/04/13

segunda-feira, 8 de abril de 2013


DÚVIDA  QUE  MATA

                     Samuel Castiel Jr.

 

 

 

 

 

 

               Aos 57 anos, separado da primeira mulher, vivia com outra  bem mais jovem, de 25 apenas, por quem se apaixonou a primeira vista! Os 32mais velho não o incomodavam tanto, mas vez por outra, davam-lhe um certo desconforto, que nunca levava muito a sério! Ultimamente, porém, as coisas começaram aos poucos mudar. Sua jovem mulher sempre foi fogosa, de coxas grossas e seios fartos! Seus quadris eram largos, sua bunda redonda e empinada! Estava sempre alegre e de bom humor, de bem com a vida! Na cama transformava-se num vulcão, levando-o a loucuras!... Mas aos poucos essa fogueira toda foi se apagando, até que só ficaram pequenas brasas! Quando reclamava, ouvia sempre:

--Você só quer saber de sexo! Não pensa mais em outra coisa! Você não tem mais idade pra isso! Já não é mais um adolescente!...E por aí se desfilava um bla-bla-bla!

           Mas fazer o que? Ele gostava dela, vivia pra ela, era apaixonado por ela! Talvez fosse só uma fase, depois as coisas certamente iriam se arrumar!

           Mas não foi bem assim. A mulher esfriou total com ele. Virou uma geladeira mesmo! Foi tudo se acabando, até e principalmente o sexo, que ele gostava tanto...

           Não agüentando mais a indiferença da sua jovem mulher, confidenciou a um amigo do escritório, tinha que desabafar com alguém!

-- Olha Ogismundo, como o ditado diz, nessas coisas de marido e mulher é melhor não meter a colher! Mas, com as coisas já chegaram até aí, você precisa ter muito cuidado pra não virar um corno conformado! Porque  não contrata um detetive particular e manda segui-la? As vezes isso dá certo!

           No início deplorou a idéia! Mas, com o tempo, a medida que a relação ficava a cada dia mais deteriorada, o ciúme apertando, foi achando que seu amigo tinha razão. Não podia aceitar sequer a idéia da traição! Mas, por via das dúvidas, só por um descargo de consciência, resolveu contratar um detetive. Tinha que ser um trabalho profissional! Não poderia haver amadorismo. Até porque, caso a sua jovem mulher descobrisse que estava sendo seguida, poderia o feitiço viarar contra o feiticeiro!  Ela poderia ir embora e ele não iria resistir ficar sem o seu pitelzinho!... Mesmo com toda a indiferença, não suportaria ficar sem aquele aconchego na cama, o calor de suas coxas!...

           Contratou o serviço de um profissional referendado pelo próprio amigo do escritório, aquele que dera a ideia. Tudo tinha que ser feito na mais discreta ação, sem deixar rastro nem pista! Tudo acertado, pagou parte adiantado, como exigiu o detetive. O restante no final do serviço. Pediu trinta dias para entregar o relatório. Nesse período, a ansiedade quase o matou! Deu até pra roer as unhas, coisa que detestava quando via nos outros.

            Decorrido o tempo previsto, o detetive Uatson trouxe-lhe o relaório:

-- Aqui está o relatório final e conclusivo Seu Ogismundo! Infelizmente não tenho boas notícias! Suas desconfianças se concretizaram: sua mulher tem um amante!

-- Como você chegou a essa conclusão? Fez tudo como estava previsto?

-- Sim, no sigilo mais absoluto. Consta tudo no relatório, com farta documentação de fotos. Você é corno! Sua mulher tem um amante! Eu a segui durange todos esses dias! Grampeei seu celular, segui os dois até o motel, esperei que entrassem no quarto e, quando fecharam a porta, postei-me olhando pelo buraco da fechadura, vendo tudo!

-- Conta, conta tudo macho! Quero todos os detalhes, com minúncias, sem faltar nada! Ele suava e esfregava as mãos, a ponto de ter um ataque apoplético!

-- Bem, eles se beijaram de forma selvagem! Ele foi arrancando suas roupas, seus soutiens e ela também foi tirando a roupa dele, peça por peça!

-- Conta, mas conta tudo mesmo! O suor saia pelo seus poros, ele esfregava as mãos freneticamente!

-- Bom, aí ele tirou a calcinha dela e...

-- Continua, conta tudo, até o fim! A saliva ficou abundante e grossa em sua boca!

-- Aí ele pendurou a calcinha dela na maçaneta da porta e não pude ver mais  nada!

-- Porra! Ele deu um soco na mesa. Isso não é possível: essa dúvida atroz é que me mata!...

quinta-feira, 4 de abril de 2013


ASSOMBRAÇÃO DE OSSOS

                                   Samuel Castiel Jr.


"A mente humana é a única criadora de seus próprios fantasmas" -  Samuel Castiel Jr. 






Ele estava no interior a serviço, num vilarejo que ficava a margem de um rio caudaloso e muito largo. Com poucos habitantes, o silêncio era sepulcral durante todo o dia, quebrado apenas pelo chamado triste e distante da inambu. Não havia mais que dois ou três carros em toda a cidade, que trafegavam esporadicamente por aquelas paragens a beira do rio. A quietude era total a qualquer hora do dia e, a noite, ficava ainda maior! Desde que chegara aquele vilarejo para realizar serviços de topografia onde seria construído um cemitério municipal, sua única distração e lazer resumia-se em pescar nas horas de folga, postado sobre um pier que entrava rio a dentro. Naquele dia estava ali desde as 17:00 horas e já se aproximava das 18:00 horas quando avistou ao longe uma canoa com um remador apenas, e que descia rio abaixo, vindo em sua direção. Ficou esperando o viajante solitário mas a canoa virou e encostou na margem do rio bem antes de passar por ele e seu único ocupante desceu. Como já estava escurecendo, no lusco-fusco, não dava pra distinguir quase nada, apenas que era um homem grande, só de calção. A linha da pescaria continuava bamba, nenhum peixe mordia! Foi então que ouviu um barulho muito alto, como se fosse um fasfalhar de folhas, vindo em direção ao pier. Amarrou sua linha de pesca na madeira do pier e foi até a rua para ver que barulho era esse! Viu então uma figura monstruosa, da altura de um dinossauro rex, o qual, quando o viu, transformou-se em uma montanha de ossos que começaram a cair em cascata, ao mesmo tempo que avançavam na rua em sua direção. Espavorido, juntou as poucas forças que ainda lhe restavam e saiu em desabalada carreira, rumo aquela pousada  onde se hospedara. Ao chegar, já com o coração a sair-lhe pela boca, a dona da pousada ao vê-lo tão assustado, suado, pálido e com os cabelos em pé, perguntou-lhe:

--O que houve com você? Parece que viu alma d’outro mundo? Tome um bom banho e depois de se refrescar tem uma sopa quentinha pra você em cima do fogão.

Ele seguiu o conselho daquela senhora. Tomou um banho e se refrescou! Achou que estava trabalhando muito ultimamente e começando a ver coisas estranhas...Foi então que se lembrou da linha de pesca, amarrada lá no pier. Correu para lá e, com uma lanterna, viu que sua linha estava tensa. Provavelmente um peixe mordera a isca! Mas ao pegar na linha achou estranho, pois ela não puxava nem balançava como se prendesse um peixe. Poderia estar apenas presa em algum galho submerso! Mas logo descartou essa possibilidade pois, ao puxar a linha, apesar de estar pesada, não oferecia resistência!...Puxou, puxou até que apareceu preso ao anzol um fêmur! O susto foi tamanho que quase o derrubou no rio! Largou pra traz a linha, o anzol e o fêmur e saiu em desabalada carreira voltando para a pousada. Dessa vez, porém, antes de chegar teve o cuidado de se recompor e respirar melhor para, de novo, não chamar atenção da curiosa dona da pousada. Já estava deitado quando se lembrou da sopa quentinha que o esperava em cima do fogão! Vestiu um roupão de banho surrado que encontrou pendurado atras da porta do banheiro, e que mal chegava até seus joelhos, e foi para a cozinha. Aquela senhora realmente não estava blefando: lá estava a panela de sopa quentinha, cheirando e ainda fumegante sobre o fogão. Pegou um prato fundo e a concha ao lado e levantou a tampa da panela. A fumaça teve que se dissipar um pouco para que ele pudesse ver apenas ossos, muitos ossos que foram se multiplicando, estalando e caindo pra fora da panela, em sua direção.

                 Quando ele deu conta de si estava na rodoviária tentando se justificar com o motorista do ônibus porque tinha que embarcar e viajar vestido naquele ridículo roupão de banho!...

                                                                                                                                          PVH-RO, 03/04/13