O RETORNO
Samuel Castiel
Ela estava exausta! Andara a noite inteira pela escuridão. Muitas
vezes achou que ia desmaiar. Estava com os pés inchados, cheios de
calos, com bolhas d'agua e ferimentos. E, chegou a pensar um dia que ia
finalmente ser feliz depois que aquele maldito marido se foi. Mas, sabe
como é seu doutor, vida de roça não é fácil não! E principalmente quando
se está sozinha! Livrei-me daquele traste, livrei-me das surras que ele
me dava e agradeci a Deus o dia que ele resolveu ir embora. Não vou
dizer que, de vez em quando, não senti falta do seu aconchego de
macho, porque estaria mentindo. Afinal, ninguém é de ferro!...
Mas, um dia ele voltou! Cheio de promessas foi ficando e ficou. No
início correu tudo bem. Até que ele ajudava - não nego! Mas aos poucos
não saía mais da rede, com a garrafa de pinga ao lado. A noite quando
eu voltava da roça, lá estava ele bêbado e com muita fome...Esquentava
sua comida ouvindo ameaças e seus xingamentos! Quando foi ontem,
Doutô, ele tava pra lá de bêbado, sentado na cama. Já tinha tirado o
cinturão pra me bater. -- Vitorina, sua filha-da'puta! Traz logo a porra desse jantar ou eu vou te
dar outra peia sarada!...
---Vou te quebrar no cinto! --
---Tá aqui sua sopa Ambrósio!
Ele encheu a colher e engoliu. Na sequência atirou o prato que se espatifou contra a parede! -- Sua vadia! Vai esquentar direito essa sopa ou eu te mato de porrada!!!
-- Juro pro senhor, Doutô: quando eu voltei, ele tava estirado na cama, roncando, dormindo de peito pro ar e espumando pelos cantos da boca! Foi então que eu resolvi sair correndo e andei a noite inteira mata a dentro pra chegar até sua Delegacia. -- Eu juro que se eu tivesse ficado lá, ele ia me matar.
-- E agora, o que que eu faço Doutô?!...