terça-feira, 20 de outubro de 2015

PÂNICO DO ELEFANTE

Pânico do Elefante
Samuel Castiel Jr.







     Na savana africana, mais propriamente na savana do Serengeti, a manada de elefantes caminha exausta sob o sol inclemente. Nuvens de areia começam a soprar fustigando ainda mais aqueles animais. Eles precisam encontrar desesperadamente uma fonte de água para saciar sua sede, antes que anoiteça. Entre eles um elefantinho de apenas dois meses caminha no meio do bando, pois havia perdido sua mãe, morta por um caçador. Finalmente encontram uma pequena poça d'agua. Imediatamente começam a sugar aquela água com suas trombas vorazes. A tempestade de areia sopra cada vez mais forte e os elefantes sabem que precisam sair imediatamente dali pois é imperioso encontrar o abrigo de alguma duna para amenizar aquela tempestade. O pequeno elefante havia entrado na poça d'agua e não conseguia sair pois as suas pernas ainda eram curtas e deslizavam nas bordas da barranca. Ali começava seu pânico pois viu a manada afastar-se rapidamente, deixando-o para trás. Depois de várias tentativas infrutíferas, finalmente ele consegue sair da poça. Acontece que a manada já sumira no horizonte e tudo que conseguia ver era a poeira de areia que fustigava seu corpo e seus olhos. Atônito e desorientado volta para as proximidades da poça d'agua e tenta se abrigar atrás de um arbusto ali existente. Os últimos raios de sol ainda estavam presentes quando se aproximou da poça  d'agua outra manada de elefantes sedentos para amenizar a sede. O filhote viu suas esperanças renovadas. Começou a se infiltrar no meio daquela manada, porém sua recepção não foi como imaginara. Foi rechaçado pelas fêmeas, uma atitude que não é habitual entre os elefantes. As tias costumam ser carinhosas, às vezes até adotam filhotes que, por qualquer motivo, ficam órfãos. Quando os elefantes deixaram a poça d'água, o filhote os acompanhou, mesmo sendo rechaçado por machos e fêmeas. À noite chegara e, finalmente, a tempestade de areia perdeu força. A manada agora se posicionara para passar a noite. No céu algumas estrelas já despontavam e a temperatura começava a cair rapidamente. O pequeno elefante, atônito, passava entre as grandes pernas, sendo rechaçado pelos machos e também por algumas fêmeas, comportamento atípico entre os elefantes, mas que infelizmente estava acontecendo aquele filhote. As fêmeas geralmente são solidárias a filhotes que ficam órfãos e acabam os incorporado a manada. Mas neste caso isso não acontecia. À noite chegou e uma escuridão intensa se abateu sobre o deserto. O frio também chegou. O pobre filhote continuava desorientado circulando entre aquelas pernas e patas gigantes. De repente um frio diferente e pavoroso percorreu o seu pequeno corpo: o esturro de um leão fez o chão tremer. Seu DNA continha informações genéticas que lhe diziam do perigo em potencial. Seu fim trágico poderia estar próximo. Seu pequeno corpo tremia de frio e pavor. Os leões famintos estavam rondando a manada, matando, estraçalhando e disputando suas presas. Foram horas de terror. A cada esturro seu tremor crescia, como se fosse uma crise convulsiva. Algumas fêmeas rechaçavam-no com suas trombas como se fosse um intruso a manada. Sabia que seu fim estava próximo. Sabia também que caso saísse da formação da manada seria imediatamente morto e devorado. Muitas vezes os leões famintos não respeitam nem as manadas de elefantes e tentam matar seus filhotes, principalmente quando percebem neles alguma inferioridade biológica ou deficiência física. Desesperado, em pânico e cheio de pavor, o pobre filhote avistou um par de olhos que olhavam fixos para ele como se fossem pequenos faróis na escuridão. A manada toda se agitou quando mais um esturro fez tremer o solo, agora bem perto, como se já estivesse no meio da manada. O pobre filhote sentiu um tremor e intenso arrepio, deixando escapar um forte jato de urina. Foi nesse exato momento que o maior de todos eles, um colossal animal, certamente o líder do bando, soltou um rugido furioso e selvagem, partindo para o ataque e seguido dos outros machos do bando. Os leões amedrontados pelos elefantes furiosos, rugindo, puseram-se em debandada, desaparecendo  na escuridão. No horizonte uma pequena fímbria vermelha começou a despontar. Começava a nascer um novo dia! A manada pôs-se então em marcha, lentamente, pois logo mais a temperatura começaria a subir novamente e precisariam encontrar alimento, novas poças d'agua para beber e se refrescar. O filhote caminhava ainda trôpego mas sentindo-se agora salvo, protegido e adotado por sua nova família.


PVH-RO, 19/10/15

terça-feira, 18 de agosto de 2015

O POETA AMIGO “ CHAGOSO”







Leal Amigo, talentoso

Pai e avô dedicado,

Poeta sutil o “Chagoso”!



Pai d'arte do “Munduri”



Sua letra absorve e encanta…

Com estilo inconfundível

Poeta sutil o “Chagoso”!


PVH-RO., 20/08/2015


Nota do Autor: Ao dileto amigo, escritor e poeta Francisco Chagas da Silva, gente de primeiríssima grandeza, pela passagem de seu aniversário em 17/8/2015. Ao criador do estilo poético “Munduri”, esta singela homenagem do Samuel Castiel Jr.

segunda-feira, 6 de julho de 2015

O MENINO E O RIO

 


Nos últimos anos temos dadivosamente recebido o carinho e a atenção dessa pessoa sensacional. Ela e sua família nos têm presenteados com momentos deliciosos de sua companhia. Pela passagem de seu aniversário me vieram essas palavras simples que lhe ofereço como presente. Um poema estilo Munduri, que retrata o que penso sobre o amigo Samuel Castiel.
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  1. Aniversario do amigo Samuel Castiel
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  2. Obrigado pelo poema que me deu de presente, grande amigo Chagoso. Nehuma polpuda conta bancária me faz mais feliz do que amigos simples e verdadeiros como você! Por isso repito sempre que sou um homem rico pela saúde e pelos amigos que tenho. Um forte abraço! Samuel Castiel Jr.

segunda-feira, 29 de junho de 2015

O BAILE GAY

O BAILE GAY

Samuel Castiel Jr.









                     Ficaram na história e também nas nossas memórias os grandes Bailes Gay dos carnavais de outrora. Quem não se lembra do Gala Gay do Scala, o Grande Baile Gay do Jockey Club no Rio de Janeiro,  etc. Era um verdadeiro deslumbre, onde tudo era permitido e ninguém era de ninguém. Onde tudo podia acontecer, inclusive nada! ... Marchinhas de carnaval, muito confete, muita serpentina, cheiro de lança-perfume no ar e, principalmente, “bichonas bombadas” e bigodudas desfilando com seus bofes, ou metidas em luxuosas fantasias, com plumas e paetês. Tudo registrado e fotografado pela Revista Manchete e transmitido ao vivo pela Record ou pela Globo. Realmente, era um verdadeiro desbunde. Nos concursos de fantasia dos salões,  Clovis Bornay,  Denner e Evandro Castro Lima eram "hors concours” ,imbatíveis. Assim é que esses bailes foram acontecendo em varias capitais pelo País afora. Muitas pessoas iam apenas  para assistir os gays entrarem triunfantes nos clubes. Ficavam do lado de fora, aplaudindo ou vaiando a entrada triunfal dos  deslumbrados personagens.
                          Porto Velho antiga não podia ficar fora desses modismos importados dos grandes centros. Não demorou muito para que Severino e Aurélio, dois ilustres representantes do futuro movimento LGBT, organizassem o primeiro Baile Gay de Porto Velho, no clube de sua propriedade, o CHOC-CHOC GAY,  recentemente inaugurado no antigo bairro Novo Estado. Foi organizado nos mínimos detalhes. O Serjão, renomado colunista social, estava a frente do evento, dando maior credibilidade e visibilidade  ao acontecimento. Durante o evento, aconteceriam varias atrações, tais como desfile de fantasias, sorteios, premiações, etc.
                             Flavio Daniel, carnavalesco, sambista, artista plástico e também simpatizante do LGBT, encontrava-se naquela noite de sexta-feira no Bar do Canto, onde costumava freqüentar antes de partir para as baladas. Encontra-se então com o Auristélio, também freqüentador do Bar do Canto. Conversa vai, conversa vem, entre um drink e outro, Auristélio pergunta:
--- Onde é a balada hoje Flávio?
--- Hoje a melhor  pedida é o 1º Grande Baile Gay de Porto Velho.
--- Meu amigo, se você não fala eu já tinha me esquecido. Fui convidado pelo Serjão para ser um dos jurados. E você vai comigo, pois o Serjão me disse que colocou seu nome também  para a mesa julgadora. Vamos nessa?
--- Tô dentro, vamos lá!
---Antes, porém Fávio, vamos nós dois no seu carro. Vou pegar os foguetes no meu porta-malas e na sequência passamos na casa da Bigail e levamos junto umas quatro ou cinco meninas, certo?
---Ok. Vamos lá.
                            Com os foguetes já no porta-malas do Flávio, partiram pra casa da Bigail. Encheram o carro de quengas e foram apressados  para a boate Choc-Choc Gay.
                          Havia uma aglomeração na porta, formada por curiosos e vendedores ambulantes. Foi quando o Auristélio mandou as  “quencas”  saltar do carro, abriu o porta-malas e começou a detonar os fogos. Sob os olhares  espantados e  curiosos, as explosões dos foguetes abriam clarões no ar espalhavando o odor típico de pólvora queimada. As meninas embaraçadas e com roupas brilhosas, começaram a entrar no clube enquanto os foguetes pipocavam no céu. Quem seriam aquelas figuras importantes que estariam chegando, anunciadas pelo fogos? Acabada a queima de fogos, Flávio e Auristélio adentram na Boate Choc-Choc Gay, cumprimentando os presentes e organizadores do baile. Tomam seus assentos na mesa julgadora e tem início o 1º Grande Baile Gay de Porto Velho.
                             Na frente da Mesa Julgadora, estava fincado um cano de aço escovado de 100,0 mm de diâmetro que se tornava furtacor quando era atingido pelas luzes multicoloridas de um globo luminoso pendurado no teto. O salão começou a ficar apertado de tanta gente que se apertava disputando os melhores lugares. As marchinhas de carnaval eram tocadas, combinando com a decoração de máscaras, palhaços, pierrôs, confetes e serpentinas.  O cheiro de lança-perfume no ar dava ao ambiente um toque de maior  perversão e permissividade.
                                 Já era quase meia-noite quando o Serjão em tom solene anunciou o desfile dos travestis que iriam concorrer ao premio de originalidade animação e  coreografia na barra. Postados do outro lado do salão, uma fila de” travecos” fantasiados esperava o sinal para exibir-se na frente da Mesa Julgadora.  Cada um tinha seu fundo musical para desfilar. Foi dado o sinal para o início do desfile e entrou então  o primeiro “traveco” fantasiado de “Libélula Deslumbrada” com fundo musical de “Macho Man”. Passou duas vezes frente aos jurados saracoteando-se toda e na sequência agarrou-se com a barra de aço escovado, fincada a frente da Mesa Julgadora. Rodopiou na barra, foi até o chão e levantou-se como se fora  uma cobra  subindo num mastro. Na terceira vez que repetiu essa coreografia, aconteceu o inesperado: o short da “Libélula Deslumbrada” de tão apertado, não resistiu e se abriu entre suas pernas, deixando saltar para fora da roupa a bolsa escrotal da “Libélula”. O Auristélio imediatamente ficou de pé e deu um soco forte sôbre a mesa. Pegou o microfone e gritou:
---Para o desfile. Para tudo!
                        Os demais jurados e o próprio Serjão estavam incrédulos, sem saber o que tinha acontecido. Ninguém estava entendendo aquela atitude de um  jurado.
---A” Libélula Deslumbrada” está desclassificada!--Anunciou o Auristélio. Foi traída pelo seu short que se rasgou deixando de fora os seus bagos. Isso descaracteriza a fantasia e desclassifica a concorrente.
                          A confusão foi geral. As brigas e bate-bocas começaram entre os jurados, entre os “travecos” e entre os presentes. Todo mundo brigou. A pancadaria foi geral. Mesas e  cadeiras voaram. A festa e o desfile foram encerrados pela polícia. O Auristélio teve que sair escoltado pela segurança, pegou um taxi para sair dali e o Flávio Daniel foi para o seu carro sozinho, pois as quengas  tinham se perdido dele  na confusão. A polícia interditou a Boate Choc-Choc Gay.
                          Desde essa noite, nunca mais ouvi falar do Baile Gay em Porto Velho.


 Nota do Autor: Qualquer semelhança com fatos, lugares e personagens desde conto terá sido mera coincidência


PVH-RO., 29/06/15  

quarta-feira, 10 de junho de 2015

QUEM MATOU A ENFERMEIRA?

QUEM MATOU A ENFERMEIRA?

Samuel Castiel Jr.














          As instalações eram antigas, como em todas as Santas Casas deste País. Enfermarias instaladas ou improvisadas em porões, no subsolo. Ambiente úmido, malcheiroso. Ratos furtivos passeavam nas áreas externas ou até mesmo nos corredores. Médicos, enfermeiras,  técnicos, estagiários e Residentes transitavam nesses labirintos parecendo verdadeiros robôs. Com uma prancheta nas mãos, seguido de vários Estagiários e Residentes, o Dr. Estevão seguia parando nos leitos, fazendo a visita médica de rotina e acompanhando a evolução de cada paciente. Fazia anotações, perguntava como os pacientes estavam evoluindo, questionava os estagiários e Residentes sobre essa ou aquela patologia.
__ Residente Saul, este paciente tem um quadro de icterícia. Quais exames laboratoriais que vão  lhe dar indicativos se essa icterícia é obstrutiva ou não?
__ A dosagem das bilirrubinas, TGO e TGP.
__ Muito bem. Vamos em frente.
       E assim, de leito em leito aquela visita matinal prosseguia.
__Dr. Estevão, temos um paciente psiquiátrico, amarrado no leito 13. Porque ele não está na enfermaria de psiquiatria? Ele está agitado e representa um risco a todos nós e aos  demais pacientes.
__É verdade Antônio. Acontece que a enfermaria da psiquiatria como sempre está lotada. E esse paciente não pode esperar. Tem agitação psicomotora, precisa ser contido no leito como você está vendo. Está recebendo uma dose grande de drogas   controladas e mesmo assim,quando cessam os efeitos, ele se agita, fica violento. Tem um diagnóstico de psicose maníaco-depresssiva ( PMD ). Possivelmente uma esquizofrenia herbefrênica  associada. Vamos em frente.
      Aquela enfermaria possuía 50 leitos que eram destinados a Clinica Médica. Dentre os estagiários e Residentes, como sempre, havia os interessados e os desinteressados, aqueles que estão sempre de mal humor, zangados consigo mesmo e com o mundo. Até parece que estão fazendo favor em apreender sôbre a nobre arte de curar. Átila era um desses Residentes desinteressados. Chegou até ao 5º ano aos troncos e barrancos, colando provas e parasitando trabalhos de colegas competentes.
__Átila, este paciente tem suspeita de um tumor cerebral. Diga-me o que faria caso ele tenha uma crise de convulsões reentrantes?
__Dr. Estevão, corro e chamo o médico!...
      Todos os presentes riram muito, menos o Dr. Estevão, é claro.
__Você está sempre tentando fazer uma gracinha! Você já é quase médico e esse comportamento não coaduna com a nossa profissão. Está dispensado da visita de hoje e espero você logo mais no meu gabinete para conversarmos. Vamos em frente.
      O Dr. Estevão mais uma vez repreendeu o Residente Átila, inclusive mostrando-lhe uma reclamação registrada no livro de ocorrência, a qual denunciava o Residente por assédio sexual. Vinha assinada pela enfermeira Clotilde, solteira, de 24 anos, a qual reclamava das atitudes e insinuações do Residente que, segundo ela, vivia cercando a profissional e dirigindo-lhe gracinhas.  Com a mesma atitude irreverente e irresponsável, Átila disse ao Professor:
__Ela se acha, Dr. Só porque tem um rostinho de boneca e um corpinho torneado, pensa que pode sair por aí esnobando todo mundo. Nada disso é verdade! É a palavra dela contra a minha.
     Ermitão era um negro, ainda jovem e musculoso, que tinha passado no concurso da Santa Casa para a função de Serviços Gerais. Limpava a enfermaria, trazia medicação da farmácia para abastecer a enfermaria e, também, passou a ajudar no Anfiteatro, onde os professores de anatomia dissecavam os cadáveres para as aulas práticas. Era um negro calado, de poucas palavras. O Dr. Estevão, algumas vezes já o tinha flagrado olhando fixo para as pernas da enfermeira Clotilde.
         O quadro de enfermeiros da Santa Casa envolvia mais de cem profissionais, pois as escalas eram de 12 horas para cada enfermaria. Os plantões noturnos eram mais calmos, exceto quando havia pacientes agitados.
         No dia que tudo aconteceu, o Dr. Estevão como sempre, chegou bem cedo a Santa Casa, foi direto para seu gabinete preparar-se para mais uma visita de rotina  a enfermaria. Eram 6:45 h quando o telefone tocou. Do outro lado, uma voz de mulher histérica, quase aos gritos, tentava dizer alguma coisa, porém o choro entremeado não deixava claro o que estava acontecendo. Até eu outra mulher, menos histérica e menos nervosa, falou:
__Dr. Estevão, mataram a enfermeira Clotilde aqui na Enfermaria!
__Estou chegando aí agora.
     A cena era horripilante. Numa grande poça de sangue, só de calcinha, a pobre Clotilde estava jogada sobre o chão do sanitário, parcialmente envolta num lençol branco, com seus dois seios mutilados.
     A polícia queria saber tudo sobre a enfermeira assassinada. Seu marido ou parceiro, seus colegas de plantão, seus amigos e amigas, seus hábitos, enfim tudo que pudesse levar ao assassino frio e audacioso que a  exterminou dentro de seu próprio  local de trabalho, sem que ninguém ouvisse ou suspeitasse de nada.
      Nos primeiros interrogatórios, nada de relevância pode ser detectado pelo Delegado. Clotilde vivia com seu parceiro a mais ou menos três anos, aparentemente bem e em equilíbrio emocional. Não tinham filhos por opção. Os colegas da enfermeira estavam em choque, pois todos gostavam muito dela como pessoa e como profissional. Os médicos, estagiários e Residentes também estavam chocados, pois ninguém conseguia entender aquele ato bárbaro, criminoso, com requintes de crueldade. Os dias foram passando e as investigações patinavam nos labirintos das hipóteses e conjecturas abstratas. Todas as pessoas interrogadas tinham-se mostrado inocentes, tinham álibis ou estavam fora do alcance de qualquer dúvida. Na busca do assassino, aventaram-se as hipóteses mais próximas e portanto, algumas delas, mais absurdas. Teria aquele paciente psiquiátrico saído de sua contenção e amarras e surpreendido a pobre Clotilde dentro do sanitário? Nessa hipótese aonde teria ele escondido a faca do crime? E porque os outros enfermos nada teriam ouvido? Seria o Residente Átila, num ataque sexual selvagem o responsável por tamanha barbárie? Ou o Ermitão, que também andava espichando o olho pra Clotilde? Mas todos tinham seus álibis, que se encaixavam perfeitamente.
            Quem matou a enfermeira? Essa pergunta estava quase enlouquecendo o Delegado Walace, que resolveu mais uma vez voltar ao local do crime.
__Com licença Dr. Estevão? Preciso de uma palavrinha sua.
__Pois não Delegado, sempre as suas ordens. Por sinal, já tem alguma pista sobre o assassinato da nossa enfermeira?
__Ainda não Dr., mas continuo buscando. É por isso que estou aqui. Diga-me Dr.,  o Sr. trabalha pela manhã e pela tarde aqui na Santa Casa, não é?  
__Sim. Preciso sempre estar em dia com meus prontuários e seguir a evolução dos pacientes internados em minha enfermaria. Além do mais, também faço dissecção de cadáveres no anfiteatro, para as aulas práticas de anatomia.
__Quando o Sr. fica no anfiteatro, entra pela noite a dentro cortando esses cadáveres?
__As vezes, sim.
__Especificamente nesse dia do assassinato da enfermeira o Sr. ficou até tarde? Lembra-se até que horas?
__Acho que até as 18 ou 18:30 h. Ora, ora Delegado! Não venha me dizer que me tem também na lista de suspeitos?
__Tenho sim Dr. Estevão. E acho bom o Dr. acertar o seu relógio e sua memória,  pois sua esposa em seu depoimento confessou que nessa noite o Sr. precisou ficar até mais que 2:00 da manhã na dissecção dos cadáveres da anatomia. Preciso informar-lhe também que o IML encontrou pedaços de lâminas de bisturi nos seios mutilados da enfermeira. E que essas lâminas são idênticas as usadas na dissecção dos cadáveres da anatomia. Agora, o Dr. precisa me acompanhar!...


PVH-RO.,  10/06/15

sexta-feira, 8 de maio de 2015

O DIA DAS MÃES

O DIA DAS MÃES

Samuel Castiel Jr.


















       Mesmo nas sociedades mais antigas, já encontramos o ano marcado por datas festivas e comemorativas. Assim é que o povo hebraico, por exemplo, um dos mais antigos, tinha e ainda tem inúmeras datas do calendário marcado por datas que comemoram alegrias e também tristezas vivenciadas pelo povo hebreu. Encontramos nesse extenso calendário festas e comemorações durante todo o ano. Assim é que temos:1 Rosh Hashanah — O Ano Novo Judaico 2 Aseret Yemei Teshuva — Dez Dias de Arrependimento – 3 Yom Kippur – Dia do Perdão 4 Sucot  5 Shemini Atzeret e Simchat Torá 6 Chanucá — Festival das Luzes 7 Dez de Tevet 8 Tu Bishvat - Novo Ano das Árvores 9 Purim — Festival das Sortes 10 Novo Ano dos Reis 11 Pessach — Páscoa 12 Sefirah — Contagem do Omer 13 Lag Ba'Omer   14.1 Yom HaShoá — Dia da Memória do Holocausto 14.2 Yom Hazikaron — Dia da Memória dos Soldados 14.3 Yom HaAtzmaut — Dia da Independência de Israel 14.4 Yom Yerushalaim — Dia de Jerusalém15 Shavuot — Festa das Semanas — Yom HaBikurim 16 Dezessete de Tamuz 17 As Três Semanas e os Nove Dias 18 Tisha BeAv — Nove de Av 19 Dízimo de Animais 20 Rosh Chodesh — o Novo Mês 21 Shabbat — O Sábado — שבת 22 Variações na observância. Essas comemorações são religiosas e bíblicas. Nos dias de hoje, numa sociedade consumista em que vivemos, o comercio em geral, vive também ávido de festas, datas e comemorações. É imperioso consumir! É imperioso vender! O marketing está em toda parte. Os shopping  Center se enfeitam e comemoram as marcas crescentes das vendas, ano após ano. E isso acaba virando cultural. Faz parte da vida moderna.

          Entretanto, no segundo domingo de maio, comemora-se o DIA DAS MÃES.  E de todas essas datas e comemorações, nenhuma outra é tão legítima como a homenagem aquela mulher que nos colocou no mundo, após nove meses de gestação, muitas vezes correndo risco de morte e passando por  sofrimentos de toda ordem. Após a concepção, entra em outra fase de dedicação exclusiva e companheirismo daquele ser que trouxe ao mundo. A amamentação representa o símbolo mais significativo e emblemático do elo que une mãe e filho. Vem o período escolar, o acompanhamento daquele ser que começa a dar os primeiros passos e que também passa a exigir outros cuidados. A adolescência chega trazendo preocupações, vigilância e cuidados outros. Os perigos espreitam na educação e valores daquele ser. Mas aquela mulher está ali para guiar e orientar seu filho para o melhor. E somente ela pode fazer isso. Somente ela tem o amor suficiente para essa função. Esqueçamo-nos hoje do apelo consumista do mercado e brindemos pois, neste DIA DAS MÃES, a mulher que nos  deu a vida e que nos entregou preparados para a sociedade,  para o País e para o mundo em que vivemos. VIVA AS MÃES!

 


PVH-RO., 08/05/15

sábado, 25 de abril de 2015

O MERCADO CULTURAL

Samuel Castiel Jr







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                 Fincado no centro da antiga Porto Velho, o Mercado Cultural inicialmente denominado Mercado Municipal, representa um dos símbolos da nossa Capital. Criado em 1913, pelo Superintendente Major Guapindaia, passou por reformas e adaptações na administração do Prefeito Joaquim Augusto Tanajura, porém só foi consolidado e inugurado oficialmente pelo Prefeito Ruy Brasil  Cantanhede, em 1950.    Construído no estilo colonial, abrigou no passado  um comércio forte de estivas e mercadorias em geral, peixarias, açougues, frutas,  legumes e verduras, etc. Podia-se encontrar ali também material de construção, botecos, sorveterias, barbearias e também muitas guloseimas como açaí, tacacá, sandubas de “boi-ralado”, cachorros quentes, pasteis e mingaus dos mais variados sabores. Lá também podia-se encontrar  materiais para caça e pesca, peles de animais selvagens, armas e munições. Era um verdadeiro shopping Center de sua época. Esse comércio forte existente no Mercado Municipal, atraía comerciantes e empresários de secos e molhados dos mais variados  setores. Assim é que relembramos alguns dos comerciantes e estabelecimentos que ali se instalaram e marcaram sua época:  Casa Flora, de Luiz Lemos, Casa Pará, de Samuel Castiel, Casa Girão, de José Girão Machado,  Casa de Ferragens de Eneas Cavalcante, Casa das Noivas, de Albertino Lopes,  Loja A Motorista, de Wilson Queiroz, Casa das Peles, de José Oceano Alves, Bar do Zizi e tantos outros. Lembramos ainda do ambulante Dega e dos mingaus da Dona Chiquinha.
                Assim é que o Mercado Municipal foi atravessando o tempo e escrevendo sua história. Foi parcialmente destruído por um incêndio na década de 50.  Sofreu especulação imobiliária, perdendo parte de sua configuração  arquitetônica.  Chega finalmente ao século 21 recebendo uma restauração que o transformou em Mercado Cultural. Um espaço público aberto as artes culturais, principalmente a música. Uma programação semanal apresentada a cada dia da semana,  leva as suas dependências e entorno, centenas de pessoas que são adeptas da boa música.  Apresentadores como Heitor Fecundo apresentando as quintas feiras  a Seresta Cultural, Ernesto Melo, as sextas feiras, levando o Grupo A Fina Flor do Samba,  Beto Cezar com a Roda de Samba, aos sábados, etc. Enfim, o Mercado Cultural passou a ser o ponto de encontro de sambistas, pagodeiros, compositores, artistas, escritores e todos os boêmios notívagos da cidade.
                Para a surpresa de todos, paira  agora no ar, a ameaça de que essa programação cultural do Mercado vai acabar no próximo dia 30 deste mês. O motivo é que os contratos com essa programação não serão renovados. Ainda não se sabe quais os motivos  alegados pelo gestores municipais. Mas, seja lá quais forem, certamente vão frustrar um dos poucos momentos de lazer gratuito, numa cidade onde é cada vez mais raro e caro para que o contribuinte possa desfrutar desses momentos. Esperemos que prevaleça o bom senso desses gestores municipais de plantão.



PVH-RO., 26/04/15

quarta-feira, 15 de abril de 2015







A REVOADA DAS ANDORINHAS

Samuel Castiel Jr.












            Como nuvens negras  em deslocamento, formando grandes desenhos geométricos no céu, elas sempre chegam, ano após ano, anunciando o verão. Atiram-se como flechas buscando um pouso seguro e um abrigo para a noite que chega.  Árvores e  fios elétricos são seus principais alvos. Quando a tarde  vai caindo, fios elétricos e árvores ficam cheios desses pássaros negros, que fazem um barulho estridente com seus milhares de piados. As fezes das andorinhas são ácidas e sujam qualquer carro ou qualquer coisa que fique embaixo delas. Essas aves são da família Hirundinidae, com várias espécies e se destacam de outros pássaros pelas adaptações desenvolvidas para alimentação aérea, pois caçam insetos no ar e para isso desenvolveram corpo fusiforme e asas relativamente longas e pontiagudas. Medem cerca de 13 cm de comprimento,podendo viver até oito anos ou mais. As fêmeas fazem uma postura de 4 ou 5 ovos que são incubados por 25 dias nascendo os jovens pássaros que são alimentados por ambos progenitores. Embora embelezem o pôr do sol, servindo para aguçar a inspiração de poetas e encher  páginas da literatura, muitas  vezes são mortas ou rechaçadas pela sujeira e incômodo que causam. Essas andorinhas são pássaros migratórios e voam milhares de quilômetros, atravessam  oceanos, as cordilheiras dos Andes, vão até os Estados Unidos e voltam a cada ano, preanunciando a chegada do verão. Comem milhões de insetos, contribuindo para o equilíbrio do eco-sistema. Representam também mais um milagre e uma incógnita da natureza e do Criador. O que sabemos na realidade, e  ensinado por nossos avós, é que enquanto houver mais de uma andorinha, haverá verão!...



PVH-RO., 15/04/15