O BAILE GAY
Samuel Castiel Jr.
Ficaram na história e também
nas nossas memórias os grandes Bailes Gay dos carnavais de outrora. Quem não se
lembra do Gala Gay do Scala, o Grande Baile Gay do Jockey Club no Rio de
Janeiro, etc. Era um verdadeiro deslumbre,
onde tudo era permitido e ninguém era de ninguém. Onde tudo podia acontecer,
inclusive nada! ... Marchinhas de carnaval, muito confete, muita serpentina,
cheiro de lança-perfume no ar e, principalmente, “bichonas bombadas” e
bigodudas desfilando com seus bofes, ou metidas em luxuosas fantasias, com
plumas e paetês. Tudo registrado e fotografado pela Revista Manchete e
transmitido ao vivo pela Record ou pela Globo. Realmente, era um verdadeiro
desbunde. Nos concursos de fantasia dos salões,
Clovis Bornay, Denner e Evandro Castro Lima eram "hors concours” ,imbatíveis. Assim é que
esses bailes foram acontecendo em varias capitais pelo País afora. Muitas
pessoas iam apenas para assistir os gays
entrarem triunfantes nos clubes. Ficavam do lado de fora, aplaudindo ou vaiando
a entrada triunfal dos deslumbrados
personagens.
Porto Velho antiga
não podia ficar fora desses modismos importados dos grandes centros. Não
demorou muito para que Severino e Aurélio, dois ilustres representantes do
futuro movimento LGBT, organizassem o primeiro Baile Gay de Porto Velho, no
clube de sua propriedade, o CHOC-CHOC GAY,
recentemente inaugurado no antigo bairro Novo Estado. Foi organizado nos
mínimos detalhes. O Serjão, renomado colunista social, estava a frente do evento,
dando maior credibilidade e visibilidade
ao acontecimento. Durante o evento, aconteceriam varias atrações, tais
como desfile de fantasias, sorteios, premiações, etc.
Flavio Daniel,
carnavalesco, sambista, artista plástico e também simpatizante do LGBT,
encontrava-se naquela noite de sexta-feira no Bar do Canto, onde costumava
freqüentar antes de partir para as baladas. Encontra-se então com o Auristélio,
também freqüentador do Bar do Canto. Conversa vai, conversa vem, entre um drink
e outro, Auristélio pergunta:
--- Onde é a balada hoje Flávio?
--- Hoje a melhor pedida é o 1º Grande Baile Gay de Porto
Velho.
--- Meu amigo, se você não fala eu
já tinha me esquecido. Fui convidado pelo Serjão para ser um dos jurados. E
você vai comigo, pois o Serjão me disse que colocou seu nome também para a mesa julgadora. Vamos nessa?
--- Tô dentro, vamos lá!
---Antes, porém Fávio, vamos nós
dois no seu carro. Vou pegar os foguetes no meu porta-malas e na sequência
passamos na casa da Bigail e levamos junto umas quatro ou cinco meninas, certo?
---Ok. Vamos lá.
Com os foguetes já no
porta-malas do Flávio, partiram pra casa da Bigail. Encheram o carro de quengas
e foram apressados para a boate
Choc-Choc Gay.
Havia uma aglomeração
na porta, formada por curiosos e vendedores ambulantes. Foi quando o Auristélio
mandou as “quencas” saltar do carro, abriu o porta-malas e começou
a detonar os fogos. Sob os olhares espantados e curiosos, as explosões dos foguetes abriam clarões
no ar espalhavando o odor típico de pólvora queimada. As meninas embaraçadas e
com roupas brilhosas, começaram a entrar no clube enquanto os foguetes
pipocavam no céu. Quem seriam aquelas figuras importantes que estariam
chegando, anunciadas pelo fogos? Acabada a queima de fogos, Flávio e Auristélio
adentram na Boate Choc-Choc Gay, cumprimentando os presentes e organizadores do
baile. Tomam seus assentos na mesa julgadora e tem início o 1º Grande Baile Gay
de Porto Velho.
Na frente da Mesa Julgadora,
estava fincado um cano de aço escovado de 100,0 mm de diâmetro que se tornava furtacor
quando era atingido pelas luzes multicoloridas de um globo luminoso pendurado
no teto. O salão começou a ficar apertado de tanta gente que se apertava
disputando os melhores lugares. As marchinhas de carnaval eram tocadas,
combinando com a decoração de máscaras, palhaços, pierrôs, confetes e
serpentinas. O cheiro de lança-perfume no
ar dava ao ambiente um toque de maior perversão e permissividade.
Já era quase
meia-noite quando o Serjão em tom solene anunciou o desfile dos travestis que
iriam concorrer ao premio de originalidade animação e coreografia na barra. Postados do outro lado
do salão, uma fila de” travecos” fantasiados esperava o sinal para exibir-se na
frente da Mesa Julgadora. Cada um tinha
seu fundo musical para desfilar. Foi dado o sinal para o início do desfile e
entrou então o primeiro “traveco”
fantasiado de “Libélula Deslumbrada” com fundo musical de “Macho Man”. Passou
duas vezes frente aos jurados saracoteando-se toda e na sequência agarrou-se
com a barra de aço escovado, fincada a frente da Mesa Julgadora. Rodopiou na
barra, foi até o chão e levantou-se como se fora uma cobra subindo num mastro. Na terceira vez que
repetiu essa coreografia, aconteceu o inesperado: o short da “Libélula
Deslumbrada” de tão apertado, não resistiu e se abriu entre suas pernas, deixando
saltar para fora da roupa a bolsa escrotal da “Libélula”. O Auristélio
imediatamente ficou de pé e deu um soco forte sôbre a mesa. Pegou o microfone e
gritou:
---Para o desfile. Para tudo!
Os demais jurados e o
próprio Serjão estavam incrédulos, sem saber o que tinha acontecido. Ninguém
estava entendendo aquela atitude de um jurado.
---A” Libélula Deslumbrada” está
desclassificada!--Anunciou o Auristélio. Foi traída pelo seu short que se rasgou deixando de fora os
seus bagos. Isso descaracteriza a fantasia e desclassifica a concorrente.
A confusão foi geral.
As brigas e bate-bocas começaram entre os jurados, entre os “travecos” e entre
os presentes. Todo mundo brigou. A pancadaria foi geral. Mesas e cadeiras voaram. A festa e o desfile foram
encerrados pela polícia. O Auristélio teve que sair escoltado pela segurança,
pegou um taxi para sair dali e o Flávio Daniel foi para o seu carro sozinho,
pois as quengas tinham se perdido dele na confusão. A polícia interditou a Boate Choc-Choc Gay.
Desde essa noite, nunca
mais ouvi falar do Baile Gay em Porto Velho.
Nota do Autor: Qualquer semelhança com fatos, lugares e personagens desde conto terá sido mera coincidência
Nota do Autor: Qualquer semelhança com fatos, lugares e personagens desde conto terá sido mera coincidência
PVH-RO., 29/06/15
Samuquinha, você diz que no seu texto que sou simpatizante do grupo LGBT, tudo bem, eu assumo. Que sou simpatizante, apenas. No mais, gostei muito. Brevemente contarei outros fatos que aconteceram comigo e o teu irmão Auristelio. Um abraço, Flávio Daniel!
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