Reflexões Noturnas
Altas horas,
madrugada em curso! Noite cálida de um verão tórrido e abrasador, aqui, abaixo
dos trópicos! Só, da sacada de meu apartamento, espreito o silêncio desta
madrugada, quebrado vez por outra pelo ronco e os faróis de um carro que
passa....A brisa úmida que começa soprar levanta folhas secas e papéis que
dormiam atirados ao solo. Um cachorro vem de longe, sem latir, sozinho, e
desaparece no final da rua. A cidade inteira parece adormecida! Milhares de
lâmpadas piscam em todas as direções. O céu estrelado completa essa harmonia
silente!
São nessas horas
mortas que a insônia me leva a refletir sobre a origem e objetivos da vida,
sobre o destino e a trajetória dos seres humanos. Nada mais patético! Logo
mais, ao amanhecer, todos estarão em mais um dia de rotina, fazendo sempre as
mesmas coisas, desafiando e sendo desafiados, as novas conquistas, numa
competitividade cada vez mais acirrada, sem fim. Logo, alguns vão morrer, vão
se matar ou serem mortos, tendo conquistado ou não seus objetivos, acumulados
de conquistas, vitórias e derrotas. E daí surge mais uma elocubração: e no
pós-morte tudo se acaba, vira pó, ou entramos em uma outra dimensão, outro
mundo melhor (ou pior)?. Em outras palavras: vai dar Allan Kardec ou Sir
Charles Darwin! Infelizmente esta questão não é tão simplória assim, não se
pode “pagar-pra-ver” como no pôquer. Não podemos blefar! Em nenhuma das teorias
tanto no espiritismo como na seleção natural, jamais poderemos saber quem foi o
vencedor. Até porque não vão restar nem vencidos nem vencedores. Para este
mundo todos estaremos mortos!...
No início da rua
surge o vulto de um homem, que vem a passos lentos, com se estivesse cansado.
Aproxima-se cada vez mais, então, pára e bate a porta do Colégio Salesiano Dom
Bosco. São batidas insistentes, fortes, quase incomodativas. Sob a luz do poste
poderia ver o seu rosto, não fosse o boné que usava. Sua roupa bastante
amarrotada, como se viesse de sua rotina de trabalho que terminara àquela hora.
As batidas à porta daquele estabelecimento não tiveram nenhuma resposta, e seus
ecos ficaram reverberando nos meus ouvidos. O homem então, solitário, parte
desaparecendo no final da rua, na escuridão!
Fico então a pensar
que aquele homem sou eu, em busca de tantas respostas que jamais obterei. As
portas não se abriram e mesmo que tivessem se aberto, não teria eu as respostas
para meus enigmas e fantasmas. Fecho então a minha sacada e volto para tentar
conciliar o sono perdido, com a mesma angústia que aflige todo ser humano que
se debruça sobre a vida e a morte! Apago a luz!
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Médico Radiologista
Membro das Academias de Letras e Medicina de Rondônia
Membro das Academias de Letras e Medicina de Rondônia
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