Pânico
do Elefante
Samuel Castiel Jr.
Na savana africana, mais
propriamente na savana do Serengeti, a manada de elefantes caminha
exausta sob o sol inclemente. Nuvens de areia começam a soprar
fustigando ainda mais aqueles animais. Eles precisam encontrar
desesperadamente uma fonte de água para saciar sua sede, antes que
anoiteça. Entre eles um elefantinho de apenas dois meses caminha no
meio do bando, pois havia perdido sua mãe, morta por um caçador.
Finalmente encontram uma pequena poça d'agua. Imediatamente começam
a sugar aquela água com suas trombas vorazes. A tempestade de areia
sopra cada vez mais forte e os elefantes sabem que precisam sair
imediatamente dali pois é imperioso encontrar o abrigo de alguma
duna para amenizar aquela tempestade. O pequeno elefante havia
entrado na poça d'agua e não conseguia sair pois as suas pernas
ainda eram curtas e deslizavam nas bordas da barranca. Ali começava
seu pânico pois viu a manada afastar-se rapidamente, deixando-o para
trás. Depois de várias tentativas infrutíferas, finalmente ele
consegue sair da poça. Acontece que a manada já sumira no horizonte
e tudo que conseguia ver era a poeira de areia que fustigava seu
corpo e seus olhos. Atônito e desorientado volta para as
proximidades da poça d'agua e tenta se abrigar atrás de um arbusto
ali existente. Os últimos raios de sol ainda estavam presentes
quando se aproximou da poça d'agua outra manada de elefantes
sedentos para amenizar a sede. O filhote viu suas esperanças
renovadas. Começou a se infiltrar no meio daquela manada, porém sua
recepção não foi como imaginara. Foi rechaçado pelas fêmeas, uma
atitude que não é habitual entre os elefantes. As tias costumam ser
carinhosas, às vezes até adotam filhotes que, por qualquer motivo,
ficam órfãos. Quando os elefantes deixaram a poça d'água, o
filhote os acompanhou, mesmo sendo rechaçado por machos e fêmeas. À
noite chegara e, finalmente, a tempestade de areia perdeu força. A
manada agora se posicionara para passar a noite. No céu algumas
estrelas já despontavam e a temperatura começava a cair
rapidamente. O pequeno elefante, atônito, passava entre as grandes
pernas, sendo rechaçado pelos machos e também por algumas fêmeas,
comportamento atípico entre os elefantes, mas que infelizmente
estava acontecendo aquele filhote. As fêmeas geralmente são
solidárias a filhotes que ficam órfãos e acabam os incorporado a
manada. Mas neste caso isso não acontecia. À noite chegou e uma
escuridão intensa se abateu sobre o deserto. O frio também chegou.
O pobre filhote continuava desorientado circulando entre aquelas
pernas e patas gigantes. De repente um frio diferente e pavoroso
percorreu o seu pequeno corpo: o esturro de um leão fez o chão
tremer. Seu DNA continha informações genéticas que lhe diziam do
perigo em potencial. Seu fim trágico poderia estar próximo. Seu
pequeno corpo tremia de frio e pavor. Os leões famintos estavam
rondando a manada, matando, estraçalhando e disputando suas presas.
Foram horas de terror. A cada esturro seu tremor crescia, como se
fosse uma crise convulsiva. Algumas fêmeas rechaçavam-no com suas
trombas como se fosse um intruso a manada. Sabia que seu fim estava
próximo. Sabia também que caso saísse da formação da manada
seria imediatamente morto e devorado. Muitas vezes os leões famintos
não respeitam nem as manadas de elefantes e tentam matar seus
filhotes, principalmente quando percebem neles alguma inferioridade
biológica ou deficiência física. Desesperado, em pânico e cheio
de pavor, o pobre filhote avistou um par de olhos que olhavam fixos
para ele como se fossem pequenos faróis na escuridão. A manada toda
se agitou quando mais um esturro fez tremer o solo, agora bem perto,
como se já estivesse no meio da manada. O pobre filhote sentiu um
tremor e intenso arrepio, deixando escapar um forte jato de urina.
Foi nesse exato momento que o maior de todos eles, um colossal
animal, certamente o líder do bando, soltou um rugido furioso e
selvagem, partindo para o ataque e seguido dos outros machos do
bando. Os leões amedrontados pelos elefantes furiosos, rugindo,
puseram-se em debandada, desaparecendo na escuridão. No
horizonte uma pequena fímbria vermelha começou a despontar.
Começava a nascer um novo dia! A manada pôs-se então em marcha,
lentamente, pois logo mais a temperatura começaria a subir novamente
e precisariam encontrar alimento, novas poças d'agua para beber e se
refrescar. O filhote caminhava ainda trôpego mas sentindo-se agora
salvo, protegido e adotado por sua nova família.
PVH-RO,
19/10/15
Talvez tenha sido parte do processo (não cerimonial) da inicialização...
ResponderExcluirUm conto intenso e profundo que prende até a última frase.