REFLEXÕES
NOTURNAS II
Choveu
forte. Depois ficou aquela chuva fina, caindo indefinidamente. A
noite ficou úmida. Uma goteira pingando sôbre um toldo, marcava o
tempo como um relógio marca os segundos. Sozinho, escuto o tempo
passar nessa marcação ritmica, levado por uma cruel e implacável
insônia. Ao fundo uma rã estridente completa o holocausto
da solidão perplexa e inexplicável da minha inquietude íntima. Os
pensamentos fragmentados vão tomando forma e gritam em buscas de
respostas que não chegam. Quem eu sou? De
onde vim e pra onde vou? Se é difícil nascer, mas difícil ainda é
sobreviver. Para onde caminha a humanidade? Ao mesmo tempo que mentes
brilhantes impulsionam nossos conhecimentos, que a ciência atinge
níveis antes inconcebíveis, parece que o homem se torna mais vil e
corrupto, mais arrogante e soberbo. E tirando partido dessa
fragilidade humana, líderes religiosos pregam a salvação eterna da
alma, garantindo-lhes um pedaço do céu. Já é muito tarde, não
exito em buscar meu antideprressivo e indutor do sono. A chuva
parou, mas ainda ouço a goteira pingando sôbre o velho toldo,
marcando cada segundo como um implacável relógio. Agora o coaxar da
rã chega como uma orquestra rasgando a noite úmida, a minha mente e
minh'alma. O novo dia está pra nascer. Quero ver um sol brilhante,
sentir muito calor. Não quero mais essa chuva nem essas nuvens
escuras. Acho que o antidepressivo começou a fazer efeito.
Decepcionado com minhas elucubrações sem respostas, fecho a minha
janela e volto pra cama. Apago a luz.
PVH-RO, 15/01/16
Nenhum comentário:
Postar um comentário