Samuel Castiel Jr
Ele estava
postado sobre aquela pedra desde bem cedo, quando o orvalho caído durante toda a noite deixara sua superfície úmida e
escorregadia. O sol subia rapidamente no nascente e ele começava a sentir sua
pele ficar suada, pegajosa. O rifle pendurado em sua costa e o chapéu de palha
de abas largas completavam a figura sinistra de um matador. Tinha tudo
planejado nos mínimos detalhes. Desde o dia que foi procurado por aquele
desconhecido e lhe foi passada uma foto da vítima. Não tinha e nem queria saber
dos dados pessoais do encomendado tais como nome, idade, estado civil, se tinha
família e filhos. Nada disso lhe importava, não lhe seriam úteis. Queria apenas o trajeto que
aquele infeliz percorria de sua casa até seu trabalho, na garimpagem de pedras
preciosas num igarapé bem escondido e camuflado no meio da selva densa. Muitos
chamavam de trabalho sujo mas... era o que ele sabia fazer! Executava e recebia
muito bem pelo seu trabalho. Pedia sempre adiantado a metade do pagamento e
depois da execução recebia o restante. Dessa vez tentou saber sutilmente quem
encomendara o serviço mas foi imediatamente desestimulado:
-- Olha aqui cara: você aceita ou não aceita o serviço? É
pegar ou largar!... Nada de ficar fuçando com conversa “mole”. O Chefão não
iria gostar nada de saber que você andou insinuando e fazendo perguntas.
-- Ok, Ok. Não está mais aqui quem perguntou!...
Mas depois, com o
passar dos dias, ficou matutando ainda por algum tempo sobre aquele homem que o
contratara. Tinha os olhos da morte, frios e iguais aos seus.
Aquele local
fora escolhido minunciosamente por ele. Um local perfeito para uma emboscada.
Ficava num desfiladeiro, numa escarpa de enormes rochas escondidas pela mata e que pareciam
amarradas por inúmeros cipós que passavam por cima dessas pedras como
tentáculos de um invisível e gigantesco polvo. A uns setenta metros de altura,
escolhera ficar de tocaia naquele ponto. De lá tinha uma visão perfeita da
estrada lá embaixo. Adaptara uma luneta a seu rifle winchester para tornar sua
pontaria mais precisa, fatal. Sabia que não poderia dar mais que um tiro. Sabia
também que um segundo disparo seria bem mais difícil acertar o alvo, pois perderia
o fator surpresa; o susto da montaria faria o animal disparar tornando sua
pontaria falha mesmo com o auxílio da luneta.
O silêncio era
quase total não fosse quebrado vez por outra pelo piado da inambu distante
chamando seu companheiro. Sabia que deveria ficar praticamente imóvel, pois
alguns pássaros e macacos costumam avisar aos outros animais da presença de
perigo ou intrusos no seu habitat. Sem dúvida alguma ele era um profissional
competente ---pensava. Sua folha corrida mostrava isso. Perdera a conta de quantas
almas já tinha despachado para o inferno.
Com um
binóculo olhava insistente e nervosamente para aquela curva da estrada de chão
batido. Era por ali que sua vítima deveria aparecer e caminhar para a morte. A
temperatura subia e o calor ficava cada vez mais intenso. Nenhuma corrente de
ar soprava, nenhuma folha nas arvores se mexia. De repente, montado em seu cavalo
surge na curva da estrada a sua vítima. Parecia despreocupado, com um cigarro
de palha na boca, trotando em sua montaria. Posicionou-se então com o corpo
deitado sobre a pedra coberta de musgo. Esperou. Prendeu a respiração já com o
dedo no gatilho. Atirou. O estampido forte ecoou na mata e reverberou nas
rochas. Pássaros assustados voaram em polvorosa. A vítima caiu ao solo fulminada pelo tiro
certeiro que transfixou seu peito. Sua montaria disparou em desenfreado galope.
Satisfeito consigo mesmo, o atirador levantou-se para começar a descer a
escarpa pedregosa, pois ele próprio precisava constatar a morte irreversível
daquele infeliz. Mal ficara de pé e outro tiro ecoou, desta vez bem
próximo ele, vindo de uma rocha um pouco
acima dele. Só deu tempo de ver um rastro de fogo que o atingiu perfurando seu peito. Olhando para cima, antes de fechar
seus olhos para sempre, ainda viu aquele perfil e aquele olhar frio da morte, iguais aos seus, que tanto o impressionaram. Caiu e deslizou no lodo das pedras para o abismo da
escarpa rochosa.
PVH-RO., 14/12/16
Suspense do principio ao fim. Muito Bom.
ResponderExcluirMuito bom, Samuel. Você criou um clima de suspense crescente, com um final espetacular. Parabéns
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