Samuel Castiel
Em época de pandemia
tudo fica mais difícil, mas principalmente para o idoso. Depois de uma
quarentena cruel e monótona, o idoso já se encontra no seu limite físico e
mental. Sente dores em todos os músculos e articulações. As artroses e artrites
quase os matam. A mente entediada começa a dar sinais germânicos do Alzheimer.
Mas, como está no grupo de risco, tem a gloria de ser do grupo prioritário. E
assim consegue tomar a primeira dose. Porém, em que pese a sua satisfação pessoal,
na realidade, tudo continua igual: tem
que continuar no isolamento social, usar álcool em gel, tomar os
polivitamínicos e ferro todos os dias. Mas, finalmente, sua esposa também
idosa, claudicante e cheia de limitações articulares, chega com a notícia:
--- Oriovaldo, vamos
levantar bem cedo amanhã pois é o dia da nossa segunda dose. Finalmente,
ficaremos imunes ao corona.
Às 5 horas da manhã o casal de idosos se
levanta, e se prepara para sair tomando apenas um café às pressas, pois a fila
deverá ser longa!
Ao chegar no local, a fila já dobrava o
quarteirão. Os velhinhos, velhotes e
velhões, todos com máscaras e conversando animadamente como se fossem receber a
senha para o céu! Alguns com os olhares indecisos, perdidos, a maioria de óculos escuros, bengalas ou cadeiras de
rodas, mas sempre bem falantes e claudicantes. Uma visão interessante não fosse
trágica! Ter que passar por mais essa no declínio de toda uma existência!...
Mas o pior ainda estava para vir para o
seu Oriovaldo e sua esposa!
---O senhor vai nos desculpar, seu Oriovaldo,
porém a vacina acabou!!!
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