Samuel
Castiel Jr.
Num sábado a Tia Ione resolveu fazer um
almoço pra rever velhos amigos, pois desde que fora operada de uma artrose do
quadril, ficou de cadeira de rodas e raramente saía de sua casa.
Durante o almoço chamou e nos
apresentou seu amigo e vizinho peruano, Arturo Duendes, artista plástico e
escultor. Assim como entrou saiu, dizendo apenas pra todos:” mucho prazer em
conocer bocês” com aquele sotaque andino. Nenhum toque de mão, nenhum sorriso,
mesmo forçado!
Comemos e bebemos a vontade, sendo que
bebemos mais do que comemos, pois o calor estava insuportável! A tarde foi
passando e já era quase noite quando nos despedimos da Tia Ione pra irmos embora,
pois dos convidados só nós ainda estávamos ali! Já saindo pelo corredor da estância,
avistamos a coleção de pedras de Arturo Duendes, postada ao longo da calçada,
com um espaçamento de mais ou menos 1,5m uma da outra. Foi aí que partiu a
ideia de levar uma daquelas pedras! A nossa amiga que nos acompanhava não
contou duas vezes: pegou uma das pedras e entrou com ela em nosso carro! Em
casa fomos olhar melhor aquela pedra: tinha o formato de um rosto espectral,
assimétrico, irregular e, mesmo com a ajuda de Arturo Duendes, podia-se dizer
que era uma coisa horrorosa, deformada, e a boca torta exibia uma fenda com lábios
caídos, como se fosse uma seqüela de Acidente Vascular Cerebral (AVC). Confesso
que ficamos impressionados com a feiura macabra daquele rosto! Sem
saber o que fazer com aquela pedra, representando um rosto monstruoso,
depositamo-la em na mureta do nosso jardim. Foi o nosso segundo erro!
Esquecemos a pedra e na segunda-feira nossa vida e nossa rotina continuaram
normais, como sempre. Porém, já no domingo mesmo a Tia Ione telefonou pra nossa
amiga, autora do furto, pedindo pelo amor de Deus que devolvesse a pedra do
Arturo, pois ele estava possesso! Descobrira o roubo de uma de suas obras de
arte e ameaçou que se a pedra não voltasse pra ele, sua maldição seria
maligna!... Iria invocar a mandinga que aprendera com seus avós, e que vinha
dos incas!
-- Devolva, minha filha! --
dizia a Tia Ione. Não sabemos quão poderosa pode ser essa mandinga, essa
maldição! Coisa milenar, dos incas, você sabe...Tenho certeza que foi você!
Apesar de você ser sempre muito brincalhona, é melhor devolver essa pedra!
-- Não Tia Ione! Dessa vez
você se enganou! Não fui eu!
Os dias foram se passando e as coisas
começaram a acontecer em nossa casa: o motor do portão eletrônico queimou, a
geladeira e as centrais de ar condicionado pararam de funcionar. Até então achavamos
que eram meras coincidências!...Nem nos lembrávamos mais da tal pedra! Aí
aconteceu um curto-circuito, quase fazendo nossa casa pegar fogo! Foi então que
caiu a nossa ficha: a pedra deixada na mureta do nosso jardim! Não que a gente
acredite em bruxarias, mas por via das dúvidas, pedimos imediatamente que a
nossa amiga autora do feito levasse aquela pedra pra bem longe da nossa casa!
Assim foi feito! Estando com o carro emprestado de uma colega sua, nossa amiga
pegou a pedra, colocou-a em uma caixa de sapato e levou-a dentro do porta-mala
do carro. Acontece que, tendo outros afazeres, esqueceu a pedra. Na sequencia
dos fatos, sua amiga bateu o carro, quase dando perda total! Na semana seguinte
um ladrão entrou na sua casa e levou tudo que havia por lá! Quando seu carro
saiu da oficina, ela o mandou lavar num posto de gasolina, sendo que o lavador
do posto ligou para ela perguntando o que deveria fazer com aquela pedra
colocada na caixa de sapato e que ele encontrara no porta-mala de seu carro:
era pra deixar lá ou podia jogar fora? Foi então que caiu também a ficha da
amiga dona do carro, a qual já tinha ouvido comentários sobre os estragos que a
pedra andava produzindo:
-- Filha da Puta da Thays!
Ela deixou a pedra dentro do meu carro!!!
No dia seguinte, estampado em todos os telejornais e sites:” POSTO DE
GASOLINA PEGA FOGO!”
Foi até aí que eu segui o rastro de
sinistros polarizados pela pedra de Arturo Duendes!
Não que eu acredite nessas coisas... mas
como dizem os argentinos: ” Yo no creo
en brujos, pero que hay, hay!...”
Nota do Autor:
1. Tradução: Eu não acredito em bruxos, mas que eles existem,
existem!...
2. Qualquer
semelhança com fatos e personagens desta estória, terá sido mera coincidência.
PVH-RO, 03/05/13
Que sufoco essa pedra....
ResponderExcluirQue sufoco essa pedra....
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