LAPSO DE MEMÓRIA
( Estorias da República )
Samuel Castiel Jr.
Ninguem tinha dinheiro. Afinal, vida de
estudante é sempre assim! Mas, era sexta-feira e todos queriam ir pra balada.
Como em todo o grupo, há sempre os mais e os menos espertos! Isso dentro da
normalidade! Mas o caso do Beto era de oligofrenia mesmo! Pois bem, o pouco
dinheiro que havia não passava de uns trocados que mal dava para comprar um
ingresso no Club Campinense, e a turma era grande, de umas dez pessoas. Tinha
que ser feita alguma malandragem. E isso não era nenhum problema para aqueles moradores da república lá em Campina
Grande, na bucólica Paraíba! Decidido e deliberado por todos, o plano era o
seguinte: seria comprado um único
ingresso feminino e um dos rapazes tentaria entrar usando o ingresso
feminino. O porteiro iria criar confusão
e, no tumulto, os outros passariam por trás, sem ser percebidos. Deu certo! A
confusão se formou na portaria por causa do ingresso feminino usado pelo
malandro, conforme estava combinado. Acontece que o oligoide do Beto não
conseguiu entrar! Foi então necessário montar um outro plano complementar: o Beto tentaria entrar misturado com o
pessoal da diretoria do Club Campinense. Isso também não deu certo, pois quando
os diretores foram consultados disseram que não conheciam aquele intruso! Outro
plano foi imediatamente construído: o
Beto iria dizer ao porteiro que tinha saído e estava apenas voltando. Para
esses casos, o Club adotava que a pessoa que saia do clube, deixava sua carteira de identidade em uma
caixa de papelão que ficava em cima da mesa, na portaria. Ao retornar, a pessoa
pedia sua identidade. Uma das mentoras do plano, que já estava dentro do clube,
aproximou-se da caixa das identidades e gravou na memória um dos nomes das muitas carteiras que ali estavam depositadas. Saiu,
foi até o pobre e abestalhado Beto e disse-lhe:
__ Você agora vai entrar! Basta
dizer ao porteiro que saiu para falar com um amigo e pede sua RG. Quando ele
perguntar qual é o seu nome, você diz que se chama Ubaldo Paes, OK? Nós vamos
estar por perto, esperando você entrar. Fica esperto, seu nome é Ubaldo Paes!
Não esqueça!
__Ok!
Quando o porteiro olhou pro Beto foi logo perguntando:
__Cadê o ingresso meu?
__Eu não estou entrando agora.Saí e
tô voltando.
__Como é o seu nome?
Foi aí que o Beto escorregou! Olhou pra um lado, olhou pro outro e, com
aquela cara de abestalhado, perguntou bem alto para a amiga autora do plano que
assistia tudo de longe:
__Zezé, como é mesmo o meu nome???
O Beto sentiu a mão forte do leão-de-chácara pegar pelo colarinho de sua
camisa e jogá-lo na rua!
__Se você voltar de novo eu juro
que, em vez de mandá-lo pra pisiquiatria, você vai reaprender seu nome na
delegacia!
Nessa noite o malaventurado Beto voltou pra república e não quis mais
saber da balada!
PVH-RO, 27/04/13
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