LADRÃO DE CARRO
“ Todo corpo que cai vai empurrado pela gravidade, mas nem sempre cai aonde deve!...”
( Issac Newton / Samuel Castiel Jr. )
Era um domingo. Devia ser mais ou menos meio dia. As ruas
estavam quase desertas em relação ao alvoroço dos outros dias da semana.
Estacionei meu carro no meio fio, em frente a casa de meus pais. Tinha ido visitar meu velho, pois ele se
encontrava enfermo. Fazia pouco tempo que tinha chegado quando ouvi um barulho
semelhante a uma explosão com vidros se estilhaçando, vindo lá de fora, da
rua. Corri pra fora e o que eu vi foi o
vidro do meu carro todo estourado. Um homem branco, pequeno, louro ou de cabelos pintados, atarracado
e forte, que fugia correndo subindo a rua, com a minha bolsa na mão.
Imediatamente liguei o meu carro e disparei atrás do ladrão. Sentido-se
perseguido, entrou numa galeria de esgoto e livrou-se de mim. Apesar das buscas
nas adjacentes ruas desertas e
ensolaradas, não encontrei ninguém. Já desanimado e voltando para casa, eis que
avisto de longe aquela figura do arrombador do meu carro. Baixo atarracado e
meio alourado, saia da galeria de esgoto por onde entrara, porém pela outra
extremidade e por outra rua. Vinha de cabeça baixa, revirando a minha bolsa que
furtara de dentro do carro, quebrando o vidro. Não tive dúvidas, era o ladrão!
Imediatamente joguei o carro na direção dele, saltei correndo e teve inicio uma
perseguição, só que agora a pé e em desabalada carreira. Lembrei-me então de gritar
“pega-ladrão” e foi assim que em poucos minutos havia um grupo de pessoas
correndo atrás do ladrão, subindo uma discreta ladeira na avenida 7 de
setembro. Acontece que o ladrão correndo na frente, de vez em quando e virava e
apontava para seus perseguidores com alguma coisa que trazia na mão, fazendo
assim com que todos se jogassem ao chão. Na sequência continuava a perseguição,
sempre aumentando cada vez mais o numero de perseguidores. Sentindo-se cada vez
mais ameaçado, o ladrão escalou rapidamente uma parede, apoiando-se nas calhas
e passou assim para o telhado das casas. Nisso para um carro ao meu lado e,
vendo aquela aglomeração com olhares
curiosos para o telhado das casas, pergunta-me o que estava acontecendo. Era um
amigo de infância e meu compadre. Sem perguntar por maiores detalhes sacou um
revolver e rapidamente se juntou aos outros perseguidores. O ladrão correndo
pelo telhado continuava ameaçando a todos com o objeto que trazia nas mãos e
que todos nós pensávamos fosse um revolver. Só mais tarde eu identifiquei
aquele objeto: era uma chave de roda! Certamente o objeto com que quebrava o vidro dos carros. O
meu amigo e compadre chegou a efetuar alguns disparos que passaram longe do
alvo. Mais tarde quando o critiquei por sua pífia pontaria, disse-me que atirara
apenas para intimidar o meliante. Correndo e cruzando de telhado em telhado, o
ladrão de carro ia passando por cima das casas, tentando desesperadamente
escapar do cerco. Acho mesmo que ele já estava arrependido de ter feito aquele
roubo.
Tudo
aconteceu muito de repente: o telhado de uma das casas quebrou e afundou,
levando junto o ladrão. A família estava reunida almoçando quando o telhado
desabou e aquele indivíduo sujo e fedido caiu por cima da mesa, quebrando as louças, derramando a feijoada e outras comidas em todas as direções e em todas as
pessoas da família ali reunida. Era um almoço comemorativo de aniversário. Sem
nada entender, as pessoas gritavam impropérios e o ladrão já começou a apanhar
ali mesmo, em cima da mesa, levando socos e bufetes até cair ao chão quando
passou a receber chutes e ponta-pés. Nós chegamos em seguida e pegamos o ladrão
que continuou apanhando até a delegacia mais próxima. O policial “Baiano”
lavrou o boletim de ocorrência (BO) e colocou o meliante atrás das grades.
Naquela
mesma semana, passando pelo centro da cidade, vi aquela figura aloirada, baixa
e atarracada, com um dos braços na tipoia e hematomas no rosto. Estava encostado em uma Hillux
estacionada nas proximidades do banco Itaú. Pensei comigo mesmo, a única punição que um ladrão como esse sofre, são as porradas que as vezes recebe. Já os crimes de políticos e os chamados do "colarinho branco", nem isso! Prevalece e ficam quase sempre na impunidade. Nesse caso, se não tivesse
ocorrido a queda do telhado, ele poderia até ter se dado bem. Porém todo corpo
que cai, vai empurrado pela gravidade, mas nem sempre cai aonde deve!...
PVH-RO,
13/11/13
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