ASSALTO AO BANCO DO BRASIL
Samuel Castiel Jr.
Hidemburgo havia sido transferido de
Maceió como gerente da mais nova agencia do Banco do Brasil em Porto Velho,
Rondonia. Além da árdua missão de administrar a nova agencia, tinha um outro
problema que era o de adaptação sua e de sua família, pois deixara uma capital
litorânea beijada por um mar de águas azuis, com os ventos constantes agitando
os coqueirais, e agora estava numa cidade de clima quente, em plena Amazônia tropical.
Com o passar dos meses, Hindemburgo aos
poucos foi se adaptando a nova realidade. Ao contrario, sua esposa sempre
reclamava do clima inóspito da cidade, bem como da violência. Soubera que a
construção das hidroelétricas de Santo Antônio e Jirau no rio madeira acabou
atraindo ladrões e assassinos profissionais de outras regiões do país, aumentando significativamente os índices da
violência no Estado. Tinha um casal de filhos adolescentes, já se preparando
para o curso superior. Como estava acostumado a caminhar na orla em Maceió, Hindemburgo
todo dia fazia suas caminhadas ao sair do Banco no final da tarde. Costumava
andar pelo menos uns 6 km, voltando já a noite para casa. Tinha esteira em sua
casa, mas preferia caminhar na pista, a não ser quando chovia naquele horário.
Nesse dia, ao chegar de sua caminhada e abrir o porão automático da garagem,
foi surpreendido por dois assaltantes que puseram o revolver 38 em sua cabeça.
Ordenaram que entrasse e fechasse o portão, antes porém fizeram entrar também
mais cinco homens e uma mulher, todos encapuzados. Aí começou uma longa noite de terror e
sofrimento pra toda a família. Juntamente com sua esposa foi amarrado, com olhos e boca vedados
por vendas e fitas adesivas, mãos e pés imobilizados. Foram presos num quarto
da casa e, quando seus filhos chegaram tiveram o mesmo tratamento e o mesmo
destino.
--Quem são vocês? O que querem de
mim? –perguntava Hindemburgo muito nervoso.
--Não vamos te fazer mal algum se colaborar com a gente –dizia um dos
assaltantes que devia ser o chefe do bando. Só queremos que você vá conosco até
a sua agência e abra o cofre. O resto é por nossa conta!
--Vocês ficaram loucos? Jamais
faria isso, e mesmo que fizesse não conseguiria abrir, pois o cofre tem um
sistema de abertura programado para determinadas horas. Ninguém sabe o segredo,
tudo funciona automaticamente. Existe um “timer” que controla o tempo de
abertura e de fechamento.
--Fique tranquilo, senhor
Hindemburgo! Nós já sabemos como tudo funciona! Sabemos também que existe um
código de emergência, que faz o cofre se abrir como se fosse uma varinha de
condão!...E sabemos também que só o gerente é que tem esse segredo. Portanto,
você precisa colaborar com a gente, caso queira viver e ainda ver sua
queridinha família. Aliás, que mulher gostosa essa tua, cara!...
--Não toque nela seu infeliz!
--Calma! Você tá muito bravo pra
quem tá na tua situação. Quem manda aqui agora sou eu! Mas eu juro que não vou
tocar nela caso você colabore com nosso plano. Caso contrário, eu juro que vou
tirar as vendas dos seus olhos só pra você ver como se estupra uma vadia como
essa! Portanto, trate de colaborar. Vou fazer rapidamente um resumo do nosso plano e trate
de absorvê-lo, pois não costumo repetir as coisas que já falei. Vamos ficar
instalados aqui nessa sua casa até as 6:00 h da manhã, quando eu, você e mais
uns três amigos iremos ao Banco. Você se identifica e pede pro vigilante deixar
você entrar, pois tem que pegar uns papeis que esqueceu e está indo pro
aeroporto viajar. Na sequência nós entramos, rendemos o vigilante, vamos até ao
cofre e você digita seu código de emergência. Quando a porta se abrir, nós
teremos 5 minutos pra fazer o limpa. Sabemos que o dinheiro está todo arrumado
em pacotes com notas de cem e de cinquenta reais. Os pacotes com as notas
menores não nos interessam, pois além de mixaria, vão fazer muito volume.
Enquanto ele falava, Hindemburgo
ficou pensando como ele poderia estar sabendo até da arrumação do dinheiro?
Naquela exata sexta-feira o Banco estaria fazendo o pagamento de parte dos
funcionários do Governo do Estado.
--Nós vamos ser muito rápidos,
tirar o que for possível e vazar do Banco sem deixar nenhuma pista –continuava
o chefão encapusado. Lá fora, para não chamar a atenção de ninguém, vamos estar
estacionados com um carro forte, que já foi providenciado. Enquanto isso você
vai ser bonzinho, pois sua família vai estar aqui na sua casa esperando por
você. Qualquer tentativa de fuga ou de desobediência, mataremos sua mulher e
seus dois filhos. Entendeu, seu abestado?
Enquanto o assaltante falava, os
outros estavam postados com as armas em punho. A mulher, acompanhada de dois
comparsas começaram a entrar nos outros aposentos e revirar tudo que
encontravam. Mas, mesmo sem ter nenhuma visão, pois estavam com os olhos
vendados, um pequeno detalhe chamou a atenção de Viviane, esposa do Hindemburgo, que era enfermeira:
entre os assaltantes que se moviam no interior da casa, havia um deles que
tinha uma tosse seca irritante, um pigarro próprio de fumante crônico e
inveterado: cof...cof...cof... Pensou que aquele maldito não teria muito tempo
de vida, pois talvez já tivesse até um câncer de pulmão ou de laringe.
--Como vê, meu caro Hindemburgo,
nossa noite vai ser longa. Precisamos de comida e bebida, pois teremos ainda
muito tempo até o amanhecer. Quero avisar a todos vocês que as câmaras e os
telefones, inclusive os celulares já foram cortados e destruídos. Portanto,
tentem se adaptar e rezem pra dar tudo certo, Ok?! Pessoal, vamos nos revezar
nessa vigília, pois eu acho que vou ver um pouco de TV. Ou melhor: você tem
algum filme pornô, Hindemburgo? Quero ficar bem atento e excitado, pois caso
algum de vocês tente nos enganar, vou
ter que estuprar primeiro essa mocinha linda e depois a coroa. Onde está seu
whisky, cara? Pega lá, ô Minhocão! E traz gelo também. Serve pro resto da
rapaziada. Coroa, onde tem um tira-gosto pra gente salgar a boca, hem?
--Procure na geladeira seu
miserável! Gostaria de ter colocado veneno nessa comida pra matar vocês todos!
--Calma, Dona Coisinha! Só queremos
um tira-gosto!
E foi assim que a noite foi
passando, parecendo uma eternidade de horrores e ameaças pra toda a família. Beberam,
comeram deitaram nas camas e nas poltronas da casa, viram TV e DVD até que chegou
o momento crucial. Eram 5:30 h. Pegaram o Hidelbrando e o levaram até a varanda
da garagem. Antes de o colocarem no carro, fizeram outra revista rigorosa na
roupa e em todo seu corpo. Postaram-se em três no banco de trás, tiraram sua
venda e o chefe do bando ordenou:
--Chegou a hora, meu caro! Dirija
com muito cuidado até o Banco, pois atrás de você tem uma pistola com
silenciador, sem contar que sua família está muito bem guardada!
Como estava previsto, o gerente
Hindemburgo fez com que o vigilante abrisse a porta dos fundos do Banco e
enquando ele entrava na agência, o vigilante foi rendido, recebeu uma coronhada
na cabeça, ficando amarrado, com venda nos olhos e fita adesiva na boca. Foram
todos rapidamente para o cofre, como se fossem habituais frequentadores do
Banco. Hindemburgo sempre empurrado ia na frente, ameaçado pela pistola do
assaltante-chefe.
--Vamos, vamos, seu palerma! Não
temos todo o tempo do mundo. Lembre-se que se tentar atrasar sequer nossa
operação, nunca mais verá sua família.
Hindemburgo inseriu a senha de
emergêngia e esperou alguns segundos. A pesada porta de aço foi girando a coroa
do segredo, algumas luzes amarelas e verdes se acenderam, ficando acessas
apenas as verdes e, a seguir, houve um estalido metálico e a grande porta então
se abriu. Quando foi puxada pelo assaltante-chefe, mostrou o interior do cofre
repleto de blocos e blocos de cédulas de reais. Imediatamente o homens do bando
começaram uma frenética retirada dos blocos de cédulas de cinquenta e de cem
reais, jogando-as dentro de sacos apropriados que tinham trazido e rapidamente
levadas para o carro-forte estacionado nos fundos do Banco. Em cinco minutos
conseguiram tirar vários sacos de dinheiro que eram jogados pra fora do cofre
enquanto outros assaltantes corriam com eles para alcançar o carro-forte. Após
os cinco minutos, a grande porta produziu um “clic” metálico e começou a se
fechar. Hindemburgo que já estava novamente amarrado e de olhos vendados, foi
arrastado para traz do gigantesco cofre, enquanto os assaltantes ganhavam a rua
e fugiam em três carros diferentes. Eram profissionais, não foi necessário
disparar um tiro sequer! Os familiares do gerente ficaram amarrados, porém
livres dos assaltantes que fugiram assim que receberam uma ligação pelo
celular.
O assalto ao Banco do Brasil foi
amplamente coberto pela mídia local e nacional. A polícia militar e a polícia
federal entraram de cabeça nas investigações, com seus serviços de
inteligência. Foram fechadas todas as barreiras e saídas da cidade, pelo ar,
por terra e fluvial. Ninguém poderia escapar daquele cerco. O Chefe do Serviço
de Inteligência da Policia Federal estava furioso. A movimentação no seu
gabinete era intensa, o telefone não parava de tocar.
--Alô, coronel. Sim já estamos com
todas as barreiras fechadas. Quero uma relação de todos os funcionários daquela
agência, com seus respectivos tempos de serviços. Vou ouvir agora o gerente e
todos de sua família. Só depois poderemos ter uma linha de ação.
O depoimento de Hindemburgo e de sua
família, não tinham quase nada que pudesse ser usado para formular um
raciocínio lógico, a não ser o detalhe que sua esposa relatara e que consistia no fato de que um dos assaltantes tinha uma tosse seca e irritante, que vinha em acessos e
que demorava para se acalmar. Nada mais de relevante podia ser considerado.
Outras oitivas cansativas foram feitas naquele dia, mas nenhuma delas se
mostrou consistente ou importante.
O relatório com nomes dos funcionários foi minunciosamente estudado.
Havia pessoas desde simples vigilantes,
serventes e “ofice-boys” até contadores, gerentes e consultores. Alguns foram
ouvidos aleatoriamente mas nenhum mostrou-se suspeito. Não havia pistas dos assaltantes.
Os dias foram se passando até que o Inspetor da Inteligêngia e Segurança da Policia Federal, pediu ao Banco uma outra relação de funcionários. Ele queria dessa vez uma relação dos ex-funcionários, ou seja, os que foram demitidos ou pediram para sair do Banco e também daqueles que se aposentaram nos últimos cinco anos. Dessa análise, com os endereços checados, despachou vários agentes para “visitar” pessoalmente essas pessoas, colhendo informações. Mas, o seu faro dizia que aquele nome Max Juliano, aposentado do Banco a quase cinco anos, precisava ser visitado pessoalmente por ele. Morava num sítio a mais ou menos uns 20 Km da cidade.
Os dias foram se passando até que o Inspetor da Inteligêngia e Segurança da Policia Federal, pediu ao Banco uma outra relação de funcionários. Ele queria dessa vez uma relação dos ex-funcionários, ou seja, os que foram demitidos ou pediram para sair do Banco e também daqueles que se aposentaram nos últimos cinco anos. Dessa análise, com os endereços checados, despachou vários agentes para “visitar” pessoalmente essas pessoas, colhendo informações. Mas, o seu faro dizia que aquele nome Max Juliano, aposentado do Banco a quase cinco anos, precisava ser visitado pessoalmente por ele. Morava num sítio a mais ou menos uns 20 Km da cidade.
Max Juliano, de 70 anos, era um
homem solitário, morava sozinho naquele sítio. E, naquela manhã acordara feliz!
Espreguiçou-se, levantou cantarolando, agachou-se e puxou uma tabua falsa do assoalho, embaixo de
sua cama. De joelhos, tirou de lá um
saco cheio de notas verdinhas de cem. Jogou algumas notas pra cima e as aparou
com suas mãos bem abertas. Algumas notas se espalharam pelo chão. Nisso ouviu batidas fortes na sua porta. Quem seria? Imediatamente juntou e escondeu novamente as
notas sob a tabua falsa, em baixo de sua cama. Quando abriu a porta, era o
Delegado Inspetor da Polícia Federal.
--Bom dia seu Max! Posso entrar? Meu
nome é Charles, sou da Policia Federal.
Mostrou-lhe seu distintivo de policia, com o Brasão da República.
Mostrou-lhe seu distintivo de policia, com o Brasão da República.
--Claro, delegado. Pode entrar. Não
repare a casa está muito desarrumada. Sabe como é, vivo sozinho, minha mulher
foi embora já faz alguns anos. Ninguém mais dá importância pra esse velho. Em
que posso lhe ajudar?
--O senhor foi funcionário do Banco
do Brasil?
--Sim, mas já estou aposentado a
alguns anos. Vida dura aquela do Banco. Mas até que eu gostava!
--O senhor sabe que aquela sua
agência do Banco foi assaltada?
--Sim. Vi pela televisão. Levaram
uma grana preta, não foi?
--Levaram muito dinheiro sim! O
senhor tem alguma informação que possa ajudar as investigações?
--Infelizmente não, Delegado! Faz
tempo que não passo nem perto daquela agência.
Charles ainda adentrou pelo quarto e
foi até a cozinha, mas nada de suspeito encontrou, a não ser desarrumação.
--Ok! Caso o senhor se lembre de
alguma coisa que possa ajudar, aqui está o meu cartão com o meu telefone.
Quando o Delegado já estava na porta saindo,
ouviu um acesso daquela tosse seca e irritante. Voltou-se rapidamente e encarou
o aposentado:
--Cof...Cof...Cof...
PVH-RO, 15/10/13
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