E AGORA Sr. XING ?
Samuel Castiel Jr.
Xing Traív Sih Fu sempre foi um chinês
nada ortodoxo. Filho de pai chinês e mãe coreana, não conseguiu diplomar-se em
nada. Apenas conseguiu com sacrifício terminar o segundo grau. Mas era muito
astuto para o comércio, tendo enveredado ainda jovem para o comércio exterior,
exportando materiais pirateados, principalmente para os países da America
Latina, como Paraguai, Bolívia e Brasil. Vendia de tudo, desde tênis de marcas
famosas, perfumes, whiskys, ventiladores, lanternas e uma infinidade de
bugigangas e produtos que representavam o sonho de consumo de povos daqueles
países. Os preços eram atraentes e, sem fiscalização eficiente nas aduanas de
fronteira, esses produtos eram comercializados em grande escala, dando ao Sr.
Xing uma grande margem de lucro, o que o tornou rapidamente um empresário forte
desse ramo. Rico e com sua empresa de exportação em franca ascenção, o Sr. Xing
ao longo de sua vida foi adquirindo gostos refinados. Com sua mansão em bairro
nobre de Kuala Lumpur, Malásia, gostava do que era bom. Frequentava os melhores
restaurantes da cidade, tomava os melhores chás, fumava os melhores cigarros e
charutos do oriente e frequentava as melhores casas noturnas da Capital da
Malásia. Casado com Jia-Li, uma ex-gueixa japonesa, que além de “expert” em
bons tratos e carícias, era também esgrimista de sabre e “faixa preta” do 5º
DAN em jiu-jitse. O Sr. Xing, que costumava
tratar a todos como se seus empregados fossem, respeitava Jia-Lin como ninguém, incondicionalmente.
Bastava que ela lhe desse um olhar pela fenda oblíqua de seus olhos para que ele se desmoronasse em pronta
subserviência. As vezes ficava pensando se era amor ou medo o que sentia por
Jia-Lin. Esposa delicada, sempre pronta para satisfazê-lo. Na cama era ainda
aquela gueixa que conhecera a tantos anos atrás. Tinha uma beleza exótica e
feições inteligentes no estilo oriental. Dera a Xing um casal de filhos que
eram tratados com muito amor e zelo. Quando eram pequenos ocupavam o casal
quase em tempo integral. Mas agora que já estavam cursando faculdades, paravam muito pouco em casa, deixando o casal
mais livre para suas atividades. O Sr. Xing gostava de Fórmula 1 e também de
jogar xadrez. Sempre que podia
frequentava o Kualla Xadrez Club onde participava de jogos e campeonatos, já
conquistando alguns troféus que guardava em um armário envidraçado e estilizado
em sua mansão.
Com o passar do tempo, Sr. Xing
começou a entediar-se da rotina de seu escritório e também de Jia-Lin. Passou
também a beber mais whisky do que devia. Começou a frequentar casas noturnas,
onde assistia shows de famosas “streeps”. Foi num casa de shows de Kualla Lumpur,
no bairro nobre de Litle India que conheceu Da-Xia, famosa “streeper”chinesa. Foi amor a
primeira vista. Depois do show mandou chamá-la para sua mesa e ofereceu-lhe
boas doses de whisky. Não demorou mais que alguns meses para propor a Da-Xia
que fossem morar juntos. Como era casado, propôs comprar um apartamento em um
bairro distante do seu, onde pudessem desfrutar do amor que sentiam um pelo
outro. Da-Xia estava empolgada com tudo que o Sr. Xing lhe oferecia. E
retribuía com as delicias de seu corpo jovem e seu sexo vibrante. A verdade é
que o Sr. Xing estava cada vez mais apaixonado por sua amante. Por outro lado,
sua esposa já andava desconfiada de suas atitudes e dos horários que passou a
chegar em casa, as vezes tarde da noite, sempre com a desculpa de que os
negócios o estavam consumindo cada vez mais. Até o sexo de sua esposa que tanto
gostava, passou a não ser mais o seu desejo. Precisava fazer alguma coisa para
ficar mais tempo com sua amante Da-Xia. Mesmo morando sozinha em um apartamento
de bairro nobre da Capital Malaika, Sr. King passou a ter um ciúme doentio de
sua amante, pois temia que ela voltasse para o “Streep show”. Encontrava-se com
ela em apenas alguns dias da semana, o que o deixava nervoso e inseguro. Foi aí
que na sua cabeça começou a surgir a
ideia de arquitetar um plano que lhe
desse o álibi para passar alguns dias colado com sua Da-Xia, vivendo um grande
amor, só os dois. Poderiam até viajar para algum lugar paradisíaco em uma ilha
distante e viver o sonho da liberdade e
com muito amor. Depois de passar dias arquitetando seu plano, concluiu que
teria que inventar para a sua atenta esposa, uma viagem de negócios, onde passaria
pelo menos uma semana viajando pela China, visitando grandes fabricantes de produtos que pudessem dar suporte para uma
grande exportação desses produtos para países da América Latina. Mas tudo teria
que ser milimetricamente planajado, pois sua querida esposa era inteligente ,
astuta e já estava desconfiada.
Tsai Hong era um vietnamita, homem
da mais irestrita confiança do Sr. Xing. Trabalhava com ele a mais de vinte
anos, quando começara vendendo incensos
perfumados e sandálias coloridas nas ruas e feiras de Kuala Lampur. Ninguém melhor do que ele
para ajudá-lo a executar seu plano.
Marcou sua viagem para Pequim de onde seguiria para outras cidades próximas,
sempre com o intuito de visitar e comprar de fabricantes os mais variados produtos
e bugigangas, quase tudo pirateado com perfeição como só os chineses são
capazes. Só assim conseguiria preços mais baratos, o que lhe renderia maiores
lucros. Quando contou seus planos para sua esposa, esta não disse que sim nem
que não, contentou-se apenas em lançar-lhe um olhar obliquo e ambíguo. Claro
que o Sr. Xing não disse a ela que na realidade quem iria viajar em seu lugar
seria seu fiel amigo e colaborador Tsai
Hong, enquanto ele tomaria outro rumo com sua musa, a sensual Da-Xia, para umas férias numa ilha paradisíaca
bem longe dali. Tomou e pagou todas as
providências para tirar novo passaporte e demais documentação necessária, pois
Tsai Hong teria que viajar com seu nome e seus documentos, uma vez que sua inteligente
e astuta esposa Jia-Lin poderia checar o
seu embarque nas companhias aéreas. Tudo pronto, tudo acertado, o Sr. Xing não
se continha de ansiedade, contando regressivamente os dias que faltavam para o
início daquela semana que seria inesquecível, longe de tudo e de todos,
principalmente bem longe de Jia-Lin.
No dia do embarque, já com as
malas prontas, despediu-se da esposa e dos filhos, colocou as malas na sua mercedes,
ajudado pelo motorista Jarbas Shing, e ordenou:
--- Para o aeroporto de Kuala Lumpur.
--- A que horas é o seu vôo, Sr.
Xing?
---Decolando as 16:00h.
---Ainda é muito cedo. Agora que
são 12:30 h, Sir.
---Não quero chegar em cima da
hora.
No seu plano tudo estava
milimetricamente pensado. O motorista tinha que ter a certeza e a convicção de
tê-lo deixado no aeroporto. Não poderia ser seu cúmplice, pois poderia dar com
a língua nos dentes caso fosse inquirido por sua esposa.
Ao descer no aeroporto, despediu-se
do motorista e dirigiu-se para um quiosque já no interior do hall do aeroporto,
onde havia marcado encontrar-se com Tsai Hong, para os detalhes e orientações finais.
De lá seguiu para a saída do aeroporto e tomou um taxi, dirigindo-se para o sul
de Kuala Lumpur.
Encontrou sua amada Da-Jia esperando
por ele em seu apartamento. Vestia apenas uma Langerie deixando suas curvas bem
visíveis e mais sensuais. Algumas varetas de incenso queimavam no ambiente,
deixando no ar um perfume suave e misterioso. Sr. Xing abraçou-a com força e
disse:
---Pronto, meu amor: finalmente a
sós! Voaremos amanhã cedo para as ilhas paradisíacas da Oceania. Serão sete
dias e sete noites inesquecíveis, de amor e sexo. Quero desfrutar todo esse seu
corpo em todo seu esplendor! Abra um Champagne francês, e traga também um pouco
de caviar. Infelizmente não poderemos brindar até tarde hoje porque o nosso voo é amanhã bem
cedo, as 06:00h da manhã.
O despertador os acordou as
04:00h. Enquanto o Sr. Xing pegava uma ducha quente no seu banheiro, Da-Jia
ligou a TV local no canal de notícias. Depois de ouvir algumas notícias, correu
até o banheiro, bateu a porta e chamou:
---Sr. Xing, Sr. Xing! Ouça o que
acabo de ouvir no noticiário local: o voo MH370 da Malaysia Airlines, com 239
pessoas a bordo, sendo 227 passageiros, inclusive 2 crianças, e 12 membros da
tripulação, está desaparecido. Não chegou a Pequim. Não era esse o seu vôo, meu
amor?
---Era.
Não viajaram mais. Passaram o
resto do dia trancados no apartamento ouvindo o noticiário, que dava conta de
que algo misterioso teria acontecido com aquele voo. Poderia ter sido um ato
terrorista, já que dois passageiros embarcaram com passaportes falsos. Mas as
notícias que chegavam estavam desencontradas. Não havia nenhuma certeza a não
ser que o Boeing B777-200 da Malaysia Airlines, um modelo dos mais sofisticados do
mundo tinha desaparecido, perdendo o controle com as torres e não tinha sido
rastreado por nenhum satélite de vários países.
O Sr. Xing olhava incrédulo para
Da-Jia, sem ter o que dizer e sem sentir mais nenhum tesão por ela. Continuou
sem ter o que dizer quando ela lhe perguntou:
--- E agora, Sr. Xing?
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